Ser mãe é se apaixonar diariamente.
Não, não estou nem falando do que a gente sente pela própria cria (que eu não canso de dizer, é insano). Falo de outro tipo de paixão, aquela que a gente sente por completos desconhecidos, vários deles ao mesmo tempo. Pelo menos eu, porque eu sou dessas, caio de amores facinho, facinho.
Essa semana mesmo aconteceu com o padeiro do supermercado, que veja você, eu nunca tinha notado, em parte porque eu não compro pão. Mas a padaria fica bem ao lado da peixaria, que fica ao lado do açougue, que fica… (já entendeu, né?). Estava lá eu esperando para pedir meus filés de salmão enquanto o peixeiro estava no açougue atendendo outro cliente, porque aqui as pessoas são mil e uma utilidades (ele corta um pedaço de cordeiro e depois te serve o peixe, e se quiser queijo ele mesmo corta também). Demorou mais do que 30 segundos e E., claro, abriu a choradeira como de costume. Se ele já não gosta de sentar no carrinho você imagina só sentar no carrinho e ainda por cima ficar pa-ra-do esperando peixe. Só que demorou bem mais do que isso e a choradeira virou um escândalo monstruoso. Teve gente passando e olhando para ver se ele tinha sido atacado por um peixe que ressuscitou e comeu o braço dele, ou coisa parecida. Podia ser um tubarão, pelo tanto que o menino gritava.
Foi aí que ele apareceu. Feio o coitado, bem magrelo e de dentes que já foram bem ruins quando ele era moço. Mas ele veio fez uma graça para E. e perguntou se podia dar um pedaço de pão para ele. Meu babóg riu, mostrou para mim o “papá” e comeu feliz da vida. Então ele me disse o quanto era raro um bebê do cabelo vermelho e olhos escuros e se foi. Deixou para trás um silêncio, uma calmaria e uma mãe com-ple-ta-men-te in lóvi.
Pensa você que foi a primeira vez? Naquele mesmo dia, olha que promiscuidade, eu já tinha me apaixonado pela senhorinha de cabelos brancos sentadas na nossa frente no ônibus, que deixou E. apoiar os pés no colo dela e que cantou para ele. Uma paixão lésbica.
E antes disso foi um adolescente, com uniforme escolar, que correu atrás de mim na rua para devolver o bichinho do E. que tinha caido sem eu perceber. Foi uma paixão platônica, então não me acusem de pedofilia.
Sem contar o caixa do mercado que chama E. carinhosamente de wee fella (uma expressão tão irlandesa quanto os dias chuvosos) a atendente da farmácia que tem sempre um sorriso, a bibliotecária que oferece o colo quando ele abre os braços.
Paixonite materna aguda.
Será que tem cura?
N.
18 Comments
Cintia
October 17, 2012 at 12:26 pmQue povo lindo que mora perto de voce. Ninguem nem olha duas vezes pra gente aqui… 🙂
Nivea Sorensen
October 18, 2012 at 9:22 amCintia,
Dublin apesar de ser a capital e a maior cidade da Irlanda ainda parece uma vila em alguns aspectos.
Beijos
Camila
October 17, 2012 at 12:52 pmAssim você só me deixa com mais vontade de conhecer esse lugar tão encantador.
Eu já estou cheia de pessoas mal educadas. E quando alguém é gentil, até me surpreendo. Olha a que ponto chegamos.
Coisa que mais me irrita é eu dar um simples Bom Dia e o infeliz olhar para a minha cara e ignorar.
O ano nem acabou, 2013 nem chegou. E eu já estou desejando 2014, ano que termino a faculdade e inicio os planos de mudança para essa terrinha mais chuvosa e gelada, e ao mesmo tempo, tão quentinha de carinho e respeito.
Nivea Sorensen
October 18, 2012 at 9:23 amCamila,
Aqui também tem muita gente mal educada, mas no geral eu sou suspeitíssima para falar desse lugar que eu já chamo de lar.
Beijos
Carol
October 17, 2012 at 1:32 pmhehe
Veja só, acho que essas crises de paixonite aguda não acometem só as mães: eu sou uma mãe-in-progress (ui!) e me apaixonei diversas vezes por diversas pessoas: do moço do farol da Av. Sto Amaro, que vende balas no farol e usa uma cadeira de rodas, pelo moço da feira que foi gentil e levou meus caldos de cana para a mesa que eu estava, me apaixonei pelo moço que entregou a pizza e disse: “Desculpe a demora” e mais recentemente: me apaixonei pela Rainha da Inglaterra! Desculpe, os Corgis dela são demais! 😀
bjos
Carol
Nivea Sorensen
October 18, 2012 at 9:23 amCarol,
Eu confesso também um amor platônico pela rainha.
Beijos
Carol
October 18, 2012 at 12:42 pmEla é tão vovó como a Palmirinha, impossível não se apaixonar…rsrsrs
bjs
Nivea Sorensen
October 18, 2012 at 9:23 pm=) x
Didi
October 17, 2012 at 1:36 pmTem como não amar quem agrada nossos filhos? Tem como não se apaixonar por quem faz nossos filhos sorrirem (principalmente enquanto estão chorando)?
beijos
Nivea Sorensen
October 18, 2012 at 9:24 amNão tem, né Didi?
Beijos
klelia
October 17, 2012 at 3:06 pmN.
eu tb sou dessas…
me apaixono facil facil e olha q nem sou mae ainda.
impossivel nao se apaixonar por pessoas educadas,esse
eh um dos motivos q me fazem amar essa terrinha,mesmo que chova quase todo dia.
bjo
k.
Nivea Sorensen
October 18, 2012 at 9:24 amSer mãe só piora isso, Klelia.
Beijos
grace
October 17, 2012 at 5:13 pmAcho que é assim por toda a vida!! Mamis que diz quem aos meus filhos beija, minha boca adoça!!
Também com um garotinho cabeça de fogo mais lindo tem como não se apaixonar??!!!
Nivea Sorensen
October 18, 2012 at 9:24 amAh, obrigada Grace.
Beijos
Claudia
October 18, 2012 at 2:40 pm..è minha querida Nivea , isso realmente é o tipo de coisa que faz uma mãe FELIZ !
Abs
Claudinha
Nivea Sorensen
October 18, 2012 at 8:49 pmSe faz, Claudinha!
x
Francine
October 19, 2012 at 2:11 pmTe entendo perfeitamente. Como é bom encontrar pessoas assim por onde vamos. bjo grande
Nivea Sorensen
October 19, 2012 at 7:16 pmBeijo para você também, Francine x