Saudade de Ballsbridge

Nós ainda não nos mudamos, não temos nem ao menos uma data certa para a mudança (e por isso ainda não contei sobre o assunto por aqui), só a certeza de que a mudança é inevitável e deve acontecer em breve.

Algumas providências já foram tomadas, cancelei a academia que fica aqui ao lado e avisei na escola que E. só fica até o final do mês (aguardamos no momento os formulários de transferência). O resto continua na mesma, porque como eu disse, não temos a data ainda.

Mesmo assim eu já comecei a me despedir de Ballsbridge, bairro onde moramos nos últimos 5 anos. Praticamente toda a minha vida com o I. foi vivida aqui. Nenhum lugar onde eu tenha morado antes eu conheço tão bem e duvido que algum vá me deixar saudades maiores.

Mal consigo imaginar a vida longe daqui e aos poucos tento me acostumar com a ideia. As amigas não vão estar mais tão próximas. O centro da cidade não vai estar mais à 30 minutos de caminhada. A estação de trem não vai mais estar aqui ao lado, facilitando tanto a vida de quem não dirige, como eu. Vou sentir saudades de caminhar as margens do rio Dodder, ao lado do condomínio, e de levar E. ali para ver o trem passar.

Vou sentir muitas saudades do estádio e da atmosfera de festa em dia de jogo: muita gente indo e vindo, os pubs todos lotados, gazebos e telões na calçada para acomodar quem não tem ingresso. Em dia de show, então nem se fala, já que era só abrir a janela para ouvir música ao vivo. Tudo sem confusão, sem estresse.

Vou sentir saudade do RDS (Royal Society of Dublin) uma espécie de espaço para feiras e eventos de todo tipo. Dá para saber o que está acontecendo só pelo público que invade a vizinhança nesses dias: super vózinhas irlandesas com sotaque caipira (é a feira de tricô e costura), mulheres lindas, bem vestidas e de chapéu e homens com roupa de montaria (tem corrida de cavalo na área), muitos jovens de uniforme escolar e cara de nerd (alguma feira de ciências), gente de todo tipo e idade fantasiado (sinal de que alguma coisa envolvendo comic books).

Vou sentir falta das mansões da Ailsbury Road e dos pequenos cottages da Ballsbridge Avenue que mais parecem casas de bonecas, do Herbert Park, da biblioteca pública, do Panda Café. Saudades de encontrar uma das vocalistas do The Corrs (nunca sei qual é qual) no Tesco da Merrion Road, ou no Roly’s Café, e de obviamente, nunca ter pedido um autógrafo. Ou de ver o jurado irlandês do The X-Factor que também mora por aqui e fingir que não sei quem ele é.

Até da bandeira norte-americana que eu vejo tremulando da minha janela (que fica no topo da Embaixada dos EUA) eu vou sentir saudades. E de todas as outras embaixadas que ficam por aqui e que fazem sempre parte do meu caminho, não importa se eu vá ao supermercado ou aos correios: Reino Unido, França, Itália, México, Holanda, Israel, Áustria, Bélgica, China, Chile, Argentina, Portugal, Polônia, Romênia, Egito, República Tcheca e todas as outras cujas bandeiras eu até tento mas não reconheço.

Apesar dessa saudade toda a mudança é para melhor e eu sei disso. Ballsbridge fica no meu coração e na minha história mas a hora de chamar outro lugar de lar chegou e eu mal posso esperar.

N.