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Meu babóg / Pretensões e Desabafos

Sorte a sua

Boy Reaching For Cookie Jar

“Nossa, ele come bem, não é? Que sorte você tem!”

Verdade seja dita, eu não nego que tenho sorte mesmo porque E. não dá trabalho para comer. Ao contrário, o que dá trabalho é fazê-lo parar de comer.  Não nego que em parte, isso já deve ter nascido com ele.

Também não nego que têm muita criança por aí enjoada para comer, cujas mães já tentaram de tudo (e continuam tentando e sofrendo com isso).  Aliás, bom dizer antes de mais nada que esse post é só sobre o mim, meu filho e a nossa experiência. Se o seu filho não come, essa não é uma crítica porque eu nem tenho nada a ver com isso.

Mas eu também não nego que a afirmação acima me incomada um pouco. Me incomoda porque ignora por completo a minha parte na equação. A gente não sabe exatamente o quanto da gente é obra da genética e quanto é obra do ambiente em que fomos criados, mas acho que já dá para se afirmar que somos uma mistura das duas coisas.

Quando comecei a introdução de sólidos na alimentação do E., quando ele tinha 4 meses, eu já tinha decidido que ele não comeria papinhas industrializadas, justamente para evitar que o gosto dele fosse moldado dessa maneira. Eu queria que ele comesse de tudo, frutas, legumes, que experimentasse texturas e gostos diferentes desde cedo. Também não fui extrema ao ponto de não usar as papinhas quando estávamos na rua, ou quando não tinha mesmo tempo de cozinhar, mas nunca fiz disso um hábito.

Eu sei que no Brasil os potinhos de comida são caros, mas aqui na Irlanda eles custam muito pouco. Teria sido mais fácil (aliás, muito mais fácil), conveniente e barato para mim optar por elas.  Ao contrário, desde sempre eu fiz questão de cozinhar tudo em casa e de oferecer variedade. Desde 5 ou 6 meses E. tem refeições (almoço e janta) com peixe, frango ou carne todas as semanas (junto com arroz, feijão, macarrão e legumes). E isso dá trabalho, mesmo que eu congele as refeições com antecedência, mesmo que ele coma nuggets com batata-frita uma ou outra vez.

Além disso, eu tive que APRENDER a cozinhar. Antes do E. eu não cozinhava, a maioria das refeições aqui de casa eram feitas pelo meu marido. Eu só quebrava um galho grelhando um filé de frango, cozinhando um macarrão, mas comprava quase tudo pronto. Durante a semana só comíamos refeições semi-prontas. Nunca tinha feito um molho de tomate, curry, arroz, feijão, nada disso. Comprei livros, pesquisei sobre o tema (o que um bebe pode ou não pode comer, com que idade introduzir cada alimento), muitas vezes nem reconhecia os nomes dos ingredientes ou não sabia nem como descascar ou usar direito (eu não sabia o que era abobrinha, aipo, pepino, batata doce, nunca tinha cortado uma cebola). E mesmo assim, ele sempre tinha comida feita em casa.

Hoje a gente continua assim. Semana sim, semana não, eu passo boa parte do dia cozinhando. Cada dia eu faço uma coisa (feijão preto, carne moída refogada, molho bolonhesa, picadinho de frango, peixe ensopado) e congelo em pequenas porções. Também tenho sempre no congelador nuggets caseiros, hambúrguer (que eu também faço em casa) bolinhos de legumes e filés de frango e peixe (que eu corto e congelo em pequenos pedaços para uma refeição), além de brócolis, espinafre e seletas de legumes. Na semana seguinte eu uso as refeições já congeladas e intercalo com uma outra coisa feitas na hora. As vezes troco o almoço por um omelete com legumes, o jantar por um mexidão de macarrão com alguma outra coisa, ou aproveito alguma coisa que I. e eu comemos, por exemplo.

Atualmente estamos numa fase em que tudo tem que ter feijão, mas nem por isso eu deixo de tentar fazê-lo comer outra coisa, mesmo que isso signifique que eu jogue comida fora e tenha sempre duas opções (se ele não gosta, incluo o bendito do feijão).

Entre as refeições ele continua comendo muita fruta, iogurte (de cabra), queijos, até bolacha (próprias para bebês). Bolos, bolachas com açúcar (tipo maizena) e sorvete são liberados com muita moderação, normalmente um dia no final de semana (compramos uma dessas coisas e deixamos ele comer). Ele só toma água, e toma muita. Se estivermos na casa de alguém, ou numa festa, também deixo que ele coma e não passe vontade (até brigadeiro, coxinha, bolo de festa). Chocolate puro, pirulitos (e doces desse tipo), bolachas recheadas, assim como refrigerantes estão proibidos mesmo.

Então, quando ele senta para almoçar (e me pede um big almoço) e eu o vejo comer com vontade eu não acho que é só sorte, não. Eu acho que eu fiz um puta trabalho de educação alimentar com ele.

Sem modéstia, tenho o maior orgulho.

N.

PS. No meio do caminho acabei aprendendo a cozinhar de verdade. Não são poucas às vezes que I. chega em casa do trabalho, experimenta o que estiver sendo feito na cozinha, e pede para jantar a mesma coisa que eu tenha feito para o filho naquele dia. Nossa alimentação só é diferente da dele porque eu não sou fã da mistura arroz e feijão, mas de resto nós também consumimos frutas e verduras e temos uma alimentação saudável e balanceada.

About Author

42 anos; brasileira que mora na Irlanda; mãe de um filhote de irlandês do cabelo vermelho e muito fogo na bunda, de uma pimentinha de olhos grandes e curiosos e de uma caçulinha que é só sorrisos.

30 Comments

  • Catherine
    August 14, 2013 at 1:10 pm

    Com toda a sinceridade: quero ser assim quando tiver meu(s) filho(s)! Parabéns, você realmente faz um trabalho sensacional com a alimentação dele!

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  • Carol
    August 14, 2013 at 1:12 pm

    Adorei!!! Eu tb fui criada assim, minha mãe sempre fez comida em casa e até hj eu tenho esse hábito. Eu gosto de cozinhar, apesar de ficar cansada de ter q fazê-lo depois de um dia de trabalho. comprar comida pronta é sim bem mais fácil e aqui no brasil é carésimo mesmo… então, entre eu e marido, prezamos pela comida feita em casa, mas tb dou umas escapadas….hehe Acho que com o baby, seguiremos assim tb, vou fazer o máximo de coisas em casa, comida caseirinha, frutas, legumes e eventualmente uma escapada, afinal, ngm é de ferro! hehe
    PArabéns pelo apetite do pequeno Viking! confesso que acho o amor dele pela comida uma comédia! Uma coisa para se orgulhar MESMO!!!
    bjoks

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    • Nivea Sorensen
      August 20, 2013 at 10:12 am

      Carol, na minha casa foi ao contrário, eu dizia que não gostava e minha mãe nunca insistiu. Cresci comendo besteira e sofri muito para mudar.
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  • Marcela
    August 14, 2013 at 1:18 pm

    Eu também quero ser assim quando tiver filhos! Minha mãe disse que quando eu era criança eu gostava de verduras, mas um certo dia eu não quis mais comer, e ela tentou de tudo pra nos acostumar novo (eu e minha irmã) mas não deu certo. Minha irmã ainda não come, ela não come nem fruta, sempre teve nojo de não conseguir chegar perto, mas há seis meses decici mudar e venho me acostumando a comer verduras (frutas eu sempre comi). Eu quis mudar isso não só pela minha saúde, mas também porque eu quero que meus filhos comam, e como é que eu vou mandá-los comer se nem eu comia, né? Hoje em dia eu sinto vontade de comer alface, coisa que eu odiava e tinha ânsia de vômito só em pensar. Acho que tudo é costume mesmo.

    Parabéns por ter acostumado o E. comer assim desde baby! beijos

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    • Nivea Sorensen
      August 20, 2013 at 10:13 am

      Marcela,
      Eu também mudei pela minha saúde e para dar o exemplo
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      Reply
  • Paula Atkinson
    August 14, 2013 at 1:41 pm

    Que maximo Nivea, parabens por todo o seu esforco e trabalho, eu acho legal ler e ver criancas comendo bem, apesar de ter o filho mais dificil quando o assunto e comida 🙁
    Voce tem toda a razao de esta super orgulhosa de vc mesmo.

    Reply
    • Nivea Sorensen
      August 20, 2013 at 10:14 am

      Paula, algumas crianças são mais difíceis mesmo, eu sei.
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      Reply
  • Juliana Valera
    August 14, 2013 at 1:52 pm

    Que orgulho!! Isso eh exatamente como pretendo fazer quando (e se) tiver filhos. Sempre digo que eh responsabilidade dos pais, o paladar a gente educa e se a crianca comer te tudo (e nao comer tranqueira nem industrializado) desde pequenininho, obviamente vai ter habitos mais saudaveis e nao vai dar trabalho para comer.
    Maravilhoso post! Parabens!
    E convenhamos que a chegada do E. fez um bem enorme para a saude e para o estomago de vcs, ne??
    Eu tenho uma vantagem, ja sei cozinhar e comida semi pronta so entra na minha casa em ultimo caso.
    Master feliz com esse post!!
    Beijos

    Reply
    • Nivea Sorensen
      August 20, 2013 at 10:15 am

      Obrigada, Juliana. E. só fez bem pra gente, é verdade.
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      Reply
  • Dani Rabelo
    August 14, 2013 at 3:04 pm

    Ni, concordo totalmente que nada é por acaso nessa vida.
    E. come bem pq tem predisposição genética para tal, mas, sem uma mãe que cozinhasse e se esforçasse para que a comida tenha uma carinha boa e gostosa, não serviria de muita coisa essa predisposição genética.

    Vc está de parabéns!

    Beijos grandes!!

    Reply
    • Nivea Sorensen
      August 20, 2013 at 10:16 am

      Dani, é isso que eu acho mesmo. Ele poderia ter nascido assim, mas se eu só oferecesse miojo não ia adiantar nada, né?

      Reply
  • Bruna Dalfré
    August 14, 2013 at 6:06 pm

    Eu acho que essa coisa de alimentação é realmente da família, em casa não tenho problemas com a alimentação da minha filha, ela come assim que nem o E. Água o dia todo, muitas frutas e legumes, nada de refrigerante.
    Lógico que se estamos numa festa, principalmente essas de aniversário infantil aqui no Brasil que só tem porcaria, eu não nego um doce ou salgadinhos, apesar que sempre dou a janta dela antes de ir, isso ajuda!
    Por favor, passe essa receita de nuggets caseiro…….o mais corrido pra mim é nos finais de semana, ai damos uma escorregada, o que é normal neh?!
    Bjusss

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    • Nivea Sorensen
      August 20, 2013 at 10:17 am

      Bruna, eu acho que já coloquei aqui uma vez. Vou procurar. Se eu esquecer me cobra de novo, please?
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      Reply
  • Karen
    August 14, 2013 at 8:35 pm

    Quero ser que nem voce quando crescer!!! 😀 Quer dizer, quando tiver filhos, porque a idade ‘e quase a mesma 🙂 Fiquei ate com fome lendo esse post.
    Tenho amigas polonesas que reclamam q os filhos (3 ou 4 anos) so comem salsicha e ovo. Maior sufoco, mas acho que vem de bebe tambem. Nao q davam salsicha e ovo, mas a partir do momento q foi liberado, so davam isso… sei la. Como nos EUA, quando a crianca faz 1 ano, ‘e uma festa deixa-la comer batata-frita “finalmente”… ai ja viu ne…

    Parabens, vou reler todo o seu blog quando engravidar 🙂
    beijos!

    Reply
  • Diana
    August 14, 2013 at 10:00 pm

    Oi, N., eu de novo. Então… realmente não acho que seja sorte. Acho que a educação alimentar e os hábitos familiares como sentar à mesa tem muito a ver com o apetite da cça. Mas, infelizmente existem cças que mesmo com tudo isso, são inapetentes. Eu era e minha mãe sofria, minha filha é e eu sofro. Sou médica, fiz toda a cartilha de aleitamento materno exclusivo até o sexto mês, introdução de frutas e legumes, e depois proteínas e cereais, tudo feito no dia e bem temperado (alho, cebola, cheiro verde, azeite…) e mesmo assim, ela come pouco. Muito pouco, tipo umas duas colheres rasas de sopa por refeição, nunca dei papinha pronta (mentira, excepcionalmente dava, tipo uma vez a cada 3meses, no desespero de um engarrafamento na estrada sem comida). Oferecia variedade, cores, estímulo e nada…. é muito difícil. Você está de parabéns por fazer isso pelo E., mas realmente ele tem predisposição para aceitar. Um beijo.

    Reply
  • De
    August 14, 2013 at 10:37 pm

    Parabéns! Li tudo e depois reli. Adorei a ideia de deixar congelado para a semana seguinte. Vou começar a me organizar pra isso!
    E parabéns! Ele podia ser um comilão de besteiras. O fato de curtir comidas saudáveis é mérito teu, sim!

    Reply
    • Nivea Sorensen
      August 20, 2013 at 10:18 am

      De, se eu não me organizar não consegui oferecer comida todos os dias.
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      Reply
  • kel
    August 15, 2013 at 5:26 am

    Que máximo, por isso que o E. gosta de comida saudável, e oh sou do time dele…adoro feijão com arroz. Bj

    Reply
    • Nivea Sorensen
      August 20, 2013 at 10:20 am

      Kel, que bom, eu não gosto de feijão. Não consigo nem experimentar quando cozinho, é o meu marido quem tem que provar para ver se está bom.
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      Reply
  • Ma
    August 15, 2013 at 7:33 am

    Eu tambem achava isso, que crianca que nao comia (desculpe a falta de acentos) era culpa da mae que nao cozinhava, nao oferecia variedades ou que nao era firme o suficiente. Mas isso era quando eu, como vc, so tinha uma filha que comia bem e de tudo ( e eh assim ate hoje). A segunda veio diferente e hoje acredito fielmente que a coisa do comer deve estar embutida so no codigo genetico, porque fiz e faco exatamente igual pras duas. Introduzi os alimentos do mesmo jeito pras duas e a Laura sempre foi implicante com a comida. Ela nao abre a boca nem para provar! Eh uma luta! A irma come os legumes mais amargos, espinafre, brocolis, abobrinha e a Laura nao abre a boca nem pra Danoninho! Acho que o papel da mae eh sempre oferecer comidas variadas pra estimular o paladar, mas nao acredito que isto tenha influencia alguma no fato da crianca ser boa de boca ou nao. Eh sorte mesmo. Bjs

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    • Nivea Sorensen
      August 20, 2013 at 10:24 am

      Ma, mas aí é do apetite que a gente está falando, não é? Isso é completamente genético mesmo, não adianta fazer nada, se a criança não quiser não come. O que eu quis dizer é que algumas crianças comem só bobeiras, muitas vezes, porque não tiveram acesso a nada diferente. Trabalhei com mães que reclamavam dos filhos não comerem e enchiam a criança de purê de batata industrializado e salsicha, desde quase bebês. Aí quando a criança chega na idade de comer com os pais é claro que ela não queria comer frango com legumes.
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      Reply
  • Joana
    August 18, 2013 at 12:04 pm

    Parabéns pelo esforço e sobretudo pelos resultados. É importante criar bons hábitos alimentares desde pequeno, acredito que se poupam anos de ingestão de porcarias (se E. começar a comer “porcarias” etc etc aos 12 anos, terá na mesma anos de vantagem sob aqueles começaram aos 3!) e de problemas futuros. Não sou especialista, nem sequer tenho filhos, é só mesmo minha opinião. Quando penso na minha infância, me sinto grata por minha mãe ter cozinhado boas refeições para mim. Claro que comi muitas bolachas, muitas gomas etc às escondidas, mas ao almoço e ao jantar comia sempre alimentos “a sério”.
    Aqui na Suécia já vi mães a fumar à beira dos filhos e a dar coca-cola a “bebés” de 2 ou 3 anos e sinceramente… eu sei que não se deve julgar os outros mas eu julguei sim. Acho errado.
    Beijos!

    Reply
    • Nivea Sorensen
      August 20, 2013 at 10:24 am

      Joana, eu confesso que tenho horror ao ver criança pequena tomando coca-cola.
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      Reply
      • Diana
        August 20, 2013 at 7:38 pm

        Eu tenho vontade de falar na hora que é um crime. Mas me contenho.

        Reply
        • Nivea Sorensen
          August 20, 2013 at 10:03 pm

          Eu me contenho também, mas chega a ferver o sangue.
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  • katia
    August 29, 2013 at 8:04 pm

    concordo com vc.. meus filhos comem bem (nao tão bem como o seu) mas comem regularmente legumes, verduras e muita fruta. Tb não tomam refrigerante (como eles já tem 5 e 6 anos, já experimentaram, mas não gostaram).
    Como todos dizem, o exemplo vem dos pais… se vc não come regularmente isso, como quer que o seu filho coma?
    eu acho um absurdo, qdo vou em um restaurante, vejo pais que passaram no mcdonalds antes e levam lanche pras crianças. Nunca fiz isso.. os meus sempre comeram o que o restaurante oferece, seja peixe, frango, frutos do mar, macarrao, pizza…
    depois, não adianta reclamar se a criança cresceu comendo mc lanche

    Reply
    • Nivea Sorensen
      September 1, 2013 at 2:37 pm

      Ah, o fim da picada levar lanche do McDonald’s para um restaurante, né?
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