Eu conheci o Ernani no início da minha vida de imigrante.
Numa época em que eu lia e escrevia quase que compulsivamente, talvez para tentar entender o que havia me trazido até aqui, até essa vida que até então ainda era novidade, me apaixonei pelo jeito dele com as palavras. Ele que também escrevia, ele que também chamava de casa um país estrangeiro.
Um dia nossas vidas tomaram rumos diferentes. A minha foi de encontro à maternidade (e foi dele a primeira visita depois que o Erik nasceu) enquanto ele se mudou para a ilha vizinha em busca de outras oportunidades profissionais.
De longe o vi publicar o primeiro livro e comemorei como se aquele fosse um sucesso meu. Nunca escondi nem dele, nem de ninguém, que ele era talentoso demais para não virar imortal.
Comprei passagens para o lançamento do livro em Lisboa e guardei pra ele meu melhor abraço. Abraço, aliás, ainda guardado já que perdi a viagem por ter sido internada com depressão.
Foi na clinica que recebi um envelope com o livro que ele havia mandado, com uma dedicatória carinhosa e foi lá mesmo que seu primeiro romance me levou às lágrimas.
Tempos depois, me recuperando em casa, recebi dele um convite. Desses que enchem a gente de medo, de expectativa, de felicidade. Desses que se recusados podem causar arrependimento para o resto da vida.
Tive muito medo de me colocar sob muita pressão, num momento em que cuidar da minha saúde mental era tão importante, mas o medo de deixar escapar uma oportunidade incrível foi maior. Por isso eu aceitei e escrevi uma crônica para que ele publicasse no seu próximo livro.
Foi o sim mais corajoso que eu disse (talvez até mais do que aquele que me levou de intercambista à imigrante) porque ao escrever a gente se despe, se desprotege, se deixa ver por completo. Para mim é quase como um processo de se deixar quebrar e transformar cacos em palavras, em frases, em história, em vida novamente.
A crônica que escrevi para o segundo livro do Ernani, assim como as outras escritas por ele e por outros convidados, diz muito sobre mim, sobre as pessoas que eu deixei para trás para poder seguir em frente, sobre o que é viver depois que a vida que a gente conhece passa a ficar cada vez mais distante.
O livro é sobre os outros. Sobre você. Sobre mim. E sobre esse cara incrível que a vida me deu o prazer de um dia cruzar o meu caminho.
Ernani, amigo-vizinho de ilha, obrigada. Por dividir com a gente seu dom e pelo convite generoso que me permitiu ver as minhas palavras publicadas.
Até breve.
N.
PS.: Dá pra comprar o livro numa clicada no site da Livraria Cultura, ou no site da Editora Chiado se você mora fora do Brasil.
3 Comments
Andreia Corrêa
September 13, 2016 at 1:54 amVc me surpreende de diversas formas.
Karine Keogh
September 15, 2016 at 1:15 pmEstou ansiosa para ler o livro!
Parabéns amiga, por dois motivos, o primeiro pela conquista e o segundo por diferente de mim, conseguir escrever com pauta hahaha
Quem sabe no próximo?
Só não peço o seu emprestado, porque quero guardar! <3
O Ernani é uma ótima recordação dos anos que a gente blogava compulsivamente e muita gente que tá no livro também, I just can't wait to read it all! <3
Um beijo em vc e na pança
maria soares
September 21, 2016 at 12:16 amParabens! Te admiro, voce e otima. Maria