Biblioteca de Amélia { Abril & Maio 2015}

De tudo o que eu escrevo nesse blog (visivelmente preterido desde que minha pintinha nasceu) essa série de posts sobre o que eu andei lendo é assunto que menos interessa as pessoas que (ainda) passam por aqui sempre, ou quase sempre, ou de vez em quando.

Mesmo assim eu continuo escrevendo, ainda que com muito atraso (a última publicação foi sobre as leituras de março), ainda que eu leia muito menos do que antigamente, ainda que eu não tenha nenhuma pretensão de escrever resenha.

Escrevo porque toda vez que penso em não escrever eu me lembro a razão de ser desse blog: registrar, olhar para trás para refletir e seguir em frente, e escrever para mim em primeiro lugar.

Aproveito então minha vontade louca de voltar a escrever com mais frequência para colocar em dia minhas impressões sobre os livros lidos esse ano e manter minha lista atualizada.

Abril e maio foram meses bem cansativos em que eu só consegui enrolar com um mísero livro, pequeno e bem gostoso de ler, por sinal.

Orange Is The New Black – Piper Kerman

Piper é uma jornalista americana que quando jovem se envolveu com tráfico internacional de drogas (foi “convencida” por uma namorada traficante a entregar uma maleta de dinheiro na Europa) e anos depois, quando já tinha uma carreira e uma vida completamente diferente, foi condenada a 15 meses de prisão numa penitenciária feminina.

O livro conta suas memórias durante esse período e virou série de TV produzida pelo Netflix.

Conheci primeiro a série e me apaixonei de cara. Aliás, se você nunca assistiu, corre e assiste porque vale muito a pena.

Depois de terminar a primeira e a segunda temporadas comprei o livro mesmo sabendo que ia me deparar com uma diferença bem grande com relação a série: a ausência da estórias de vida das outras personagens, muitas delas completamente fictícias.

Então é isso, série e livros são bem distintos porque enquanto o livro se resume ao olhar da autora, a série toma todas as liberdades para criar estórias de vida para as personagens que nem sempre são fiéis a realidade. Ou melhor, estórias nem mencionadas pela Piper Kerman.

Ela, aliás, foi bastante criticada por ter escrito só sobre si mesma, mas o livro é o que é, a história de vida dela num determinado lugar e período de tempo. Honestamente não fiquei com uma má impressão dela por conta do livro. Ela não tem culpa de ser branca, bem educada e com acesso a muitas coisas que facilitaram, e muito, a vida dela na prisão (visitas, presentes, um futuro longe dali).

Pelo contrário, achei que ela passou por um período de crescimento durante o tempo de prisão. Aceitar, por exemplo, que a culpa por estar ali era só dela (e não da influência da namorada, por exemplo) exige um certo amadurecimento. Assim como perceber que ela não teria sobrevivido aquilo sozinha, sem a familia e amigos do lado de fora e sem aquelas mulheres tão diferentes com quem ela dividiu a vida e a intimidade.

Essa foi uma das coisas que me conquistou no livro e também na série de TV, imaginar que se uma situação era muito difícil para ela o que dizer de outras mulheres cuja vida na cadeia pode até ser melhor do que a vida aqui fora? Mulheres separadas da família, dos filhos, que muitas vezes não podem, por falta de condições financeiras, visitá-las, aquelas que não tem casa para voltar, que provavelmente não vão ser empregadas novamente, que cumprem penas enormes, que fatalmente irão voltar a cometer delitos.

Enfim, o livro me fez refletir bastante sobre o sistema penitenciário, sobre feminismo, sobre vida, perdão e crescimento e só por isso teria valido a leitura.

N.