Deu e não deu

Chegamos em terras brasileiras sãos e salvos. Ou melhor, salvos porque sã eu não sou mesmo, do contrário não acharia, num surto de otimisto materno, que ia tirar de letra a viagem de quase 12 horas de Amsterdã até São Paulo com um babóg de fogo na fralda e uma vértebra fora do lugar.

Ainda não me recuperei a ponto de falar sobre o assunto, então deixemos isso para uma outra hora. Vai que é que nem dor de parto, eu me esqueço e no ano que vem repito a dose?

Já deu tempo da família perceber que E. realmente não dorme (tia A., dormindo no quarto ao lado, que o diga). Deu até tempo da minha mãe enfiar na cabeça que o menino precisa mesmo é de uma benzedeira (nesse momento ela assunta na portaria do prédio para ver se consegue um contato). Eu, no nível de despero socorro-eu-preciso-dormir-urgentemente, nem vou me opor.

Deu tempo de me perguntar porque diabos as pessoas perdem tempo fervendo água nesse pais. Quando é que alguém vai começar a produzir kettles* por essas bandas?

Já deu tempo de ouvir o clássico do comércio local: “a senhora não tem trocado?” e me irritar. E de perder vários centavos porque ninguém dá troco mesmo, né?

Já gastei muitas calorias empurrando carrinho pelas calçadas escandalosamente esburacadas e desniveladas do bairro. Todas devidamente repostas com pão francês fresquinho e manteiga aviação.

Não deu tempo para ver praticamente ninguém, e como estou tentando dormir um pouco durante o dia, junto com E., ainda acho dificil fazer planos.

Ainda não deu tempo de procurar um pediatra, nem de ir à piscina, e veja só você, ainda não deu tempo de comer pastel de feira.

Nem de blogar.

Ou melhor, blogar até que deu né?

Em esquema de férias, volto quando der, quando puder, e quando a conexão com internet permitir.

Não me abandone.

N.

* Kettle é uma jarra que você enche de água e liga na tomada para ter sempre água quente rapidinho e sem o menor trabalho que toda casa tem.