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Vida na Irlanda

Covid-19, a Irlanda e a nossa família

Os primeiros casos confirmados de Covid-19 na Irlanda ocorreram no final de fevereiro e início de março desse ano.

Ainda em março veio o primeiro sinal de que as coisas eram de fato bastante sérias, com o cancelamento das comemorações do dia de São Patricio, o principal feriado do pais. Na sequência, todas as escolas, creches e universidades foram fechadas, seguidas de restaurantes, pubs, lojas, academias, cinemas e provedores de serviços não essenciais. Shows e partidas de futebol foram cancelados. As pessoas que podiam começaram a trabalhar de casa, enquanto outras perderam os empregos ou foram forçadas a tirar férias. Para quem perdeu o salário o governo fornece um auxilio (€350 semanais).

Desde então a situação permanece a mesma. Basicamente só supermercados e farmácias permanecem abertos. As pessoas tem permissão para irem às compras quando necessário, tomando os devidos cuidados (e contando com o bom-senso que, como sabemos, nem todo mundo tem). Para que o distanciamento social recomendado (de 2 metros) possa ser obedecido há filas nesses estabelecimentos e adesivos no chão para servir de guia. Também é permitido às pessoas caminhar ou correr ao ar livre num raio de 2km das suas residências e a Garda (a polícia da Irlanda) circula pelas ruas para garantir que as regras sejam cumpridas.

Até o dia de hoje a Irlanda tinha cerca de 15.600 casos e pouco menos de 700 mortes. O sistema de saúde tem aguentado bem, o que significa que o achatamento da curva de contágio tem surtido efeito. Desde o diagnóstico até o tratamento, tudo está sendo custeado pelo Governo que assumiu o controle dos hospitais particulares temporariamente.

Acho que essas informações fornecem uma ideia geral da situação do país.

Quanto à minha família, é importante enfatizar que fazemos parte de um grupo bastante privilegiado para o qual as mudanças não causaram alterações drásticas no modo de vida.

Em primeiro lugar, estamos todos saudáveis. Erik chegou a apresentar possíveis sintomas do vírus (teve febre alta e dores no peito) e foi testado, confesso, mais por precaução uma vez que ele tinha ido à uma clinica de saúde algumas vezes durante o período de confinamento (ele caiu, cortou o joelho e precisou de pontos). O resultado demorou mais de 2 semanas e foi negativo (nesse período ficamos completamente isolados dentro de casa). Meu pai também foi internado com o vírus no Brasil mas hoje está bem e em casa. De resto, nenhum parente ou amigo foi infectado.

Erik aguardando para fazer o teste

Em segundo lugar, Ian já trabalhava de casa e ainda não sofreu nenhuma diminuição na quantidade de trabalho, ou seja, economicamente também estamos bem por enquanto. Claro, sempre existe a preocupação com o futuro daqui para frente, uma vez que a economia do país e do mundo deve ser bastante afetada.

A mudança principal mesmo se deve ao fato de que as crianças estão em casa em tempo integral e isso para mim tem seu lado negativo e positivo.

Devo admitir que passado o choque inicial com a situação (e a mudança na nossa rotina), eu hoje tenho curtido muito esse período. Primeiro porque eu não faço mesmo muita questão de sair de casa (aliás, saio muito pouco), segundo porque a minha principal ocupação é com a criação de filhos mesmo, e nisso nada mudou. Pesa, cansa e estressa, mas até aí zero novidades.

Se por um lado eu tenho pouco tempo sozinha (isso para mim é disparado a parte mais difícil nesse período de quarentena) por outro eu não tenho o estresse de ter que levar e buscar as crianças na escola (com os três em horários diferentes eu passava algumas horas do dia dentro do carro, ou colocando e tirando criança de dentro do carro); nem de ter que pular da cama as 6 da manhã.

Como eles são a prioridade a casa está mais bagunçada e mais suja, e tudo bem (eu faço terapia é para conseguir lidar com isso mesmo).

A escola manda diariamente algumas sugestões de atividades, utilizando uma série de aplicativos e sites, e eu faço o que cabe na nossa rotina, levando em conta as necessidades não só dos meus filhos como as minhas (lembrando ainda que Erik tem necessidades especiais). Tem dias que estou com nenhuma paciência e nesse dia eles acabam vendo mais TV. Em outros eu percebo que são eles que não estão a fim e aproveitamos só para brincar.  Se eles estão brincando bem juntos e felizes de maneira alguma eu interrompo para ensinar matemática, por exemplo. Lição de irlandês? Ignoro, já que desconheço completamente o assunto e não vou me cobrar por mais isso. Já as brincadeiras para ensinar e praticar leitura com a Elena, por exemplo, descobri que levo muito jeito para fazer e ela curte, então por que não aproveitar? Com Erik tenho optado para fazer atividades relativas ao bem-estar e conhecimento emocional sabendo que ele precisa muito mais disso do que de qualquer outra matéria escolar.

Pelo menos a escola dos meus filhos adotou um posicionamento de cobranças zero, o que eu acho bastante positivo. E assim seguimos.

Como eu disse antes, difícil mesmo tem sido passar todas as horas de todos os dias com as crianças. Para lidar com isso eu tenho investido pesado mesmo em auto-cuidado, porque a prioridade em casa é sempre com a minha saúde mental (que afeta diretamente à todos). Tenho cuidado da alimentação, feito atividade física regularmente, meditado, continuo com a terapia, vejo as amigas no skype todos os dias e tento ao máximo dormir cedo.

Tudo isso ajuda mas não impede, claro, que eu não surte de vez em quando e queira sair por aí lambendo os produtos do supermercado e as pessoas para ver se eu pego o vírus e aí sim, precise me isolar, bem longe dos meus filhos.

Aliás, confesso, esses dias são bem comuns, viu?

 

About Author

42 anos; brasileira que mora na Irlanda; mãe de um filhote de irlandês do cabelo vermelho e muito fogo na bunda, de uma pimentinha de olhos grandes e curiosos e de uma caçulinha que é só sorrisos.

3 Comments

  • Raissa
    April 21, 2020 at 7:48 pm

    Nivea, adoro sua sensatez e estou amando seus textos! Sempre me identifiquei com você, e agora mais que nunca!
    Penso exatamente da mesma forma.
    Espero que tudo isso passe logo pra todos nós.
    Um abraço

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  • Isabela
    April 22, 2020 at 11:46 am

    Nívea, nem eu que não sou mãe, tem dias que quero me isolar do mundo, as vezes até de mim mesma.

    Acho que seja um efeito do isolamento e te entendo!

    Adoro seus textos.

    Beijos

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  • Tety
    April 29, 2020 at 1:23 am

    Ola Nivea, amei seu blog e seu post!
    por aqui também graças a Deus está normal, e gostaria muito de continuar em home office visto que trabalho bem distante rs, mas ao mesmo tempo torcendo pra que tudo acabe logo, pois infelizmente nao esta “normal” pra todos 🙁
    a gente vive uma montanha russa de emoções durante a semana, e eu por exemplo nao vejo a hora de chegar os fins de semana pra “relaxar”, quanto a sair também sou caseira, então nao tem me feito falta,
    um super beijo

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