18 dias de internação numa clinica psiquiátrica.
Essa sou eu hoje. Melhor, infinitamente melhor do que no primeiro dia. Estou bem, mas ainda há alguns dias (talvez semanas) de voltar de vez para minha casa.
Primeiro, não é tão ruim quanto parece. Na verdade, é muito melhor do que parece. E muito pior também, depende do dia e para onde eu olho. Ou melhor dizendo, de como eu olho. Estar aqui, assumir estar aqui, nada disso é fácil, mas foi necessário e tem sido muito bom para mim.
O lado ruim e o pior eu vou deixar para uma outra hora. Uma hora em que eu possa suportar melhor o peso de tudo isso na minha vida e na vida da minha família.
Aos poucos tenho passado horas, dias, e até uma noite (até agora) longe do hospital. Nas duas últimas semanas passei duas tardes em casa com meus pequenos. Nem consigo comensurar a alegria de estar com eles novamente. No primeiro final de semana de internação também pude sair por algumas horas e ficar com a família. No último, dormi em casa uma noite. Nesse próximo, dormirei duas.
Tenho permissão para caminhar lá fora quando quiser e de sair com o meu marido de vez em quando. Ontem, por exemplo, voltamos aos tempos felizes em que íamos ao cinema. Parecíamos dois namorados (o que, vamos combinar, a gente nunca deveria ter deixado de ser ou de parecer).
Ainda quando estou aqui, estou longe de estar confinada numa cama de hospital. Tenho um quarto só meu, com meu próprio banheiro e chuveiro. Muitas das minhas coisas estão aqui provisoriamente. Sigo uma rotina nada parecida com a de estar num hospital, no sentido de que uso minhas próprias roupas e cuido da minha aparência (pelo agora que me sinto mais forte). Tudo isso faz com que eu nem sempre me lembre que isso é um hospital, ou parte de um.
Não fazemos as refeições no quarto, mas junto aos outros pacientes (somos 10 no total) e o dia é gasto com diferentes tipos de terapias individuais ou em grupo. A cada hora tem algo diferente acontecendo. Além claro, das consultas quase diárias com um psiquiatra. No tempo livre, aproveito para fazer minha “licão de casa”, que inclui leituras, reflexões e exercícios, além de meditação e alguma atividade física (tenho acesso à academia do hospital mas gosto mesmo de sair para correr lá fora, o que tenho feito 2 ou 3 vezes na semana). Aproveito também para ler e tenho lido muito.
Minha medicação ainda está em processo de ajuste, daí a razão de eu ainda continuar internada. Para balancear os efeitos colaterais do antidepressivo de costume uma outra droga foi adicionada temporariamente assim como remédios para dormir [ um dos efeitos colaterais da medicação contra depressão são os disturbios do sono, no meu caso, sonhos ou pesadelos extremamente reais que me impediam de dormir ]. Outro efeito que eu ainda enfrento em grande escala é a exaustão física. Quase todos os outros já passaram ou diminuem a cada dia.
Durante à noite, a cada hora para ser exata, uma enfermeira entra no meu quarto para ver se estou dormindo, se o sono parece leve, se aparento alguma perturbação. Durante o dia elas também tomam nota de onde estou a cada hora, se estou participando dos grupos de apoio, me exercitando e mantendo contato ou se estou trancada no quarto (o que é sempre decidido por mim). Tudo isso entra no meu relatório médico, ou meu “plano de cuidados” como eles chamam. Quando cheguei aqui, essa checagem tanto noturna quanto diurna era feita a cada 15 minutos.
Ao mesmo tempo que tratamos a depressão com a medicação tenho feito o melhor uso possível de outras terapias e de meditação, tudo disponível para mim aqui. Meu “time de apoio” é composto por 7 profissionais: a psiquiatra, dois psicólogos (um deles especialista em terapia cognitiva comportamental), uma terapeuta ocupacional, uma terapeuta social e duas enfermeiras psiquiátricas. Encontro com esse “time” inteiro sempre uma vez na semana, quando estamos todos juntos, e durante o dia individualmente.
O staff de enfermeiras, estudantes e médicos é de aquecer qualquer coração. Nas primeiras noites, em que tinha crises de ansiedade por estar longe das crianças muitas das enfermeiras noturnas me ofereceram ombros, ouvidos e me deixaram chorar.
Aos poucos também acabei criando alguns laços com outros pacientes. Alguns são idosos ou tem problemas físicos além dos emocionais com os quais eu posso ajudar. Conheço todos pelo primeiro nome. Sei como cada um toma o seu chá (fraco, forte, com ou sem leite, com açúcar, adoçante ou na marra mesmo). Gosto de caminhar com alguns, de ouvir outros, já virei até companhia de tricô e de novela, veja só, mas muitas vezes preciso me isolar para me lembrar que estou aqui para cuidar de mim em primeiro lugar.
Pela primeira vez, minha doença é tratada como um todo. Se estivesse em casa jamais teria acesso a todas essas coisas e estaria muito longe de estar recuperada, ou de estar no caminho da recuperação. Pela primeira vez, começo a perceber que posso quebrar esse ciclo com o qual tenho vivido nas últimas décadas. Ter quase morrido pode ter significado para mim uma nova vida, uma vida menos ameaçada por essa doença.
Não posso dizer que tudo isso seja ruim, posso? Aliás, só posso mesmo é agradecer.
N.
45 Comments
Paula Oliveira
December 3, 2015 at 6:18 pmVc tem realmente muita sorte de ter todo esse time ao seu redor.
Espero que tudo fique bem, querida.
xx
Nivea Sorensen
December 4, 2015 at 1:40 pmObrigada, Paula x
Monique
December 3, 2015 at 6:18 pmNivea, nem sei muito bem o que falar, só que fico muito feliz de saber que você está encontrando a luz no meio de toda escuridão…
<3
Beijo
Nivea Sorensen
December 4, 2015 at 1:39 pmObrigada, Monique x
Priscila MS LIma
December 3, 2015 at 7:04 pmNívea, saiba que desejamos do fundo do coração que tudo que estás vivenciando agora, seja um grande aprendizado pra ti e que saias fortalecida dessa experiência . Muito sucesso no seu tratamento e que a volta para a vida seja sempre um motivo a comemorar e agradecer. Estás em nossas preces. bjs
Nivea Sorensen
December 4, 2015 at 1:39 pmObrigada, querida x
Didi
December 3, 2015 at 7:36 pmMe consolou te ler sabendo que tem ido para casa e ficado com as crianças. Me consolou ver o quanto de apoio você tem e, principalmente, da consciência que tem das suas necessidades e da importância de tudo isto.
Tenho certeza que tudo isto junto vai te ajudar a sair dessa melhor, mais forte e cheia da coragem que você tem mostrado nos seus relatos.
Beijo e abraço sincero e pela sua plena recuperação
Nivea Sorensen
December 4, 2015 at 1:39 pmObrigada, Didi x
Liza
December 3, 2015 at 8:18 pmNivea seus posts sempre me emocionam de alguma forma. Esse é forte, impactante, sem firulas… Real. Eu espero de coração que você saia daí mais forte, estável e que seja assim pro resto da sua vida. Você e toda a sua família está em minhas oração.
Fique bem e um grande abraço xx
Nivea Sorensen
December 4, 2015 at 1:39 pmObrigada Liza x
Mariana
December 3, 2015 at 9:17 pmSempre quero escrever um monte mas não sai. Então, deixo registrado que estou muito feliz que você está sendo bem cuidada, está melhorando e está esperançosa. Sinta se abraçada e recebendo um caminhão de boas energias.
Nivea Sorensen
December 4, 2015 at 1:39 pmMariana, muito obrigada x
Cintia Romano
December 3, 2015 at 10:12 pmEi Nívea, receba meu abraço!
Penso em vc sempre, tb tive depressão e hoje não tomo mais medicação, mas cada dia é uma pequena vitória.
Você é muito querida, forte, guerreira e tenho certeza que em breve você estará em casa.
Cuide-se e “carpe diem”
Grande abraço! <3
Nivea Sorensen
December 4, 2015 at 1:38 pmVerdade, Cintia. Obrigada x
Bruna
December 3, 2015 at 10:19 pmSempre leio o seu blog, mas nunca comentei,por vergonha, acho eu rs! Muita força!
Abraços
Nivea Sorensen
December 4, 2015 at 1:38 pmObrigada, Bruna x
Glenda
December 3, 2015 at 10:33 pmForça Nívea! Um abraço grande!
Nivea Sorensen
December 4, 2015 at 1:38 pmOgrigada, Glenda x
Angela
December 3, 2015 at 10:34 pmNivs, Nivs… Nem sei o que escrever para você. Espero de coração que você se recupere logo e fique bem. Beijos.
Nivea Sorensen
December 4, 2015 at 1:37 pmObrigada, Angela x
Alessandra Mosquera
December 3, 2015 at 11:01 pmParece ser mesmo uma clínica muito boa, que bom que você está sendo bem cuidada. Estou torcendo por você! Quando você menos esperar, terá alta. Um beijo grande.
Nivea Sorensen
December 4, 2015 at 1:37 pmObrigada, Alessandra. Penso sempre em você e na sua recuperação também x
Natacha
December 4, 2015 at 12:44 amForça Nívea! Realmente, as vezes aquilo que parece muito ruim nos permite redirecionarmos nosso caminho…sempre em busca de tratarmos melhor a nós mesmo…te entendo, por outra via mas, com certeza, tão assustadora e dolorosa quanto a tua.
Felicidades
Nivea Sorensen
December 4, 2015 at 1:37 pmObrigada, Natacha x
Thais
December 4, 2015 at 2:13 amNívea, você vai se recuperar e ficar bem. O seu esforço é prova disso. Estou torcendo por você. Beijos querida!
Nivea Sorensen
December 4, 2015 at 1:37 pmObrigada, Thais x
Ana Carolina
December 4, 2015 at 2:19 amOi Nívea, acompanho seu blog há um tempo e nunca comentei, mas hoje quero dizer que torço muito pela sua recuperação e que só o fato de você perceber que esse apoio é o que vai mudar a sua vida você está quase lá. Te desejo saúde e muita paz, para os seus pequenos tb.
Nivea Sorensen
December 4, 2015 at 1:36 pmObrigada, Ana Carolina x
Priscila Martins
December 4, 2015 at 2:23 amNívea, estou torcendo por sua recuperação e que a melhora seja diária!
Nivea Sorensen
December 4, 2015 at 1:36 pmObrigada, Priscila
Eve
December 4, 2015 at 10:38 amForça gata que a gente tá aqui
Nivea Sorensen
December 4, 2015 at 1:36 pmObrigada Eve x
grace
December 4, 2015 at 12:23 pmSabe o que é estranho? esse é um post triste-alegre… senti ambos os sentimentos! Estou torcendo muito por você, para que se fortaleça o mais rápido possível e volte para casa… Ah e sempre tenho que te agradecer por você me fazer compreender um pouquinho mais dessa doença e me solidarizar com quem sofre com ela.
Grande beijo, Grace
Nivea Sorensen
December 4, 2015 at 1:35 pmÉ meio assim que eu me assinto mesmo, Grace, alegre e triste ao mesmo tempo! Muito obrigada pelo carinho x
Mari
December 4, 2015 at 12:53 pmQue bom que, tendo que enfrentar uma barra tão pesada, você está tendo esse time e essa estrutura, e esse sistema de que você possa escolher o que fazer. Parece uma abordagem bem avançada, humanizada, da doença.
Um grande abraço. Estou sempre orando por você e sua família.
Nivea Sorensen
December 4, 2015 at 1:35 pmObrigada, Mari
Silvana
December 4, 2015 at 1:47 pmTorcendo MUITO por vc! Vc é uma guerreira!
ANA PAULA BRITO SOUSA
December 4, 2015 at 1:48 pmMuito emocionada com teu texto. Torço por vc e sua linda família. Feliz com a sua recuperação. Beijo carinhoso na alma…
Lilian
December 4, 2015 at 1:56 pmNivea, estou aqui torcendo muito por você!
um beijo carinhoso!
Luciana - Canada
December 4, 2015 at 4:27 pmO que te dizer?
Você é admiravel, tua força, tua coragem… Agora é seguir em frente e viver um dia de cada vez. Em breve vc estara em casa fortalecida e ainda mais completa.
Boa sorte minha querida. Te quero tao bem! 🙂
beijo
Lu
Vivian
December 5, 2015 at 3:14 amReceba meu abraço, Nivea. Estou aqui torcendo muito por sua recuperação. Grande beijo.
Luciene Asta
December 5, 2015 at 12:19 pmVoce tem gratidão pelo que está vivendo, está vendo isso como uma coisa boa (e É !), então com certeza está atraindo vibrações de CURA pra voce. Voce entrega pro Universo vibrações de GRATIDÃO, receberá de volta vibrações de SAÚDE PLENA. Força Nívea ! Em breve isso terá passado. Um forte abraço em voce.
verônica
December 7, 2015 at 5:20 amNívea muita força no seu tratamento e obrigada. Obrigada por contar como é uma clínica dessas. Ainda bem que vc está sendo bem cuidada. O país que vc está tb faz toda diferença. Já tive depressão forte e me cuido com terapia mas nunca tomei remédio. Este ano tb tive um familiar próximia internada em uma clínica psiquiátrica, que ela mora na America do Norte. Fiquei arrasada quando soube pq sei como é fiquei triste de não estar com ela. Fiquei aliviada de poder confiar no tratamento dela, já que ela estando em um país desenvolvido, teria todos os cuidados.Já está com alta e tb com os remédios ajustados.
Tudo de bom pra vc. Nada do que foi será como já foi um dia.
bjs para vc e família
Melissa
December 8, 2015 at 1:46 pmOi Nívea, fico torcendo por sua recuperação! Obrigada por compartilhar, tenho certeza que consola muito gente saber que não está sozinho. Leia os livros do Dr. David Perlmutter, tenho certeza que vão te ajudar. Bjs!
neusa
December 30, 2015 at 3:19 amTudo passa nesta vida desde que tenhamos fé em Deus .Junto com a terapia clinica especializada a oração para o Rabi da Galiléia o Medico dos Médicos muito colabora para mantermos saúde e paz. A vida continua sempre. Pensar e fazer o bem é plantarmos flores em nosso caminho. Valeu sua força e seu depoimento.