Os três dias antes da chegada da minha pequena.
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Sexta-feira – 30/01 – 39 semanas e 4 dias de gestação
Era dia de consulta com a parteira na clinica dentro da maternidade. Estava cansada porque no dia anterior não tinha parado quieta e sem nenhuma vontade de sair de casa mas precisava ir à consulta de qualquer jeito. Como era no meio do dia I. não poderia me levar e me trazer de volta em casa. Ele sugeriu que eu fosse de táxi e voltaríamos todos juntos para casa. Teimosa que sou, ignorei o conselho. Não chovia, não nevava, e apesar do frio de lascar, o sol brilhava la fora. O ponto de ônibus fica à 5 minutos da minha casa e me deixa bem no centro de Dublin. Resolvi que iria de ônibus e ali do centro pegaria um táxi até a maternidade, na zona sul, um trajeto de menos de 10 minutos. Claro que com minha dificuldade de locomoção e dores na coluna a caminhada até o ponto de ônibus levou 25 minutos ao invés dos 5. Mas tirando isso, a viagem foi ótima.
Ao descer no ônibus no centro E. tentou segurar minha mão. Expliquei para ele que não conseguia andar segurando a mão dele (estava andando com o apoio de uma muleta e ele acaba me puxando para baixo me tirando o equilibrio) e que ele devia andar ao meu lado. Ao invés disso ele resolveu sair correndo de mim, bem no meio da avenida de maior movimento na cidade, em pleno horário de almoço.
Entrei em pânico porque não conseguiria correr atrás dele. Chamei, gritei, tentei andar o mais rápido possível, mas começava a perde-lo de vista quando uma moça percebeu meu desespero e saiu correndo atrás dele. Me trouxe ele pela mão, dando uma bronca de leve. Fiquei tão nervosa que ao invés do táxi acabei entrado em outro ônibus para ir ao hospital.
Chegando lá ainda tive que esperar I. que estava atrasado e trazia minha pasta com meu meu histórico. Sem a pasta não poderia ser atendida. Mesmo assim entrei para começar a consulta com a parteira que começou a tirar minha pressão enquanto E. mexia em todo o equipamento (coisa que ele nunca tinha feito antes). Ao mesmo tempo I. me ligava sem parar porque não lembrava onde era a clinica (meu marido é um homem incrível mas não conseguiria nem andar se precisasse lembrar de por um pé na frente do outro).
Apesar de tudo isso a consulta correu bem. Tudo normal, bebê ainda bem baixo (segundo ela minha barriga não desceria mais do que aquilo apesar de todo mundo achar que ela ainda estava alta). Conversamos sobre o parto e meu medo de não conseguir parir por causa do problema na coluna. Deixei claro mais uma vez, para a parteira e para o I. que não queria que me oferecessem drogas. Ela concordou que a anestesia no meu caso podia até ser pior já que eu ia precisar ficar praticamente deitada de costas o que colocaria mais pressão na coluna e mais dor quando o efeito da anestesia terminasse. Segundo ela a melhor posição para mim seria sentada na banqueta de parto ou deitada de lado.
Ao entrar no carro do I., no caminho para casa, cai no choro. Uma mistura de cansaço, estresse e ansiedade. Me permiti aqueles 5 minutos de xilique e depois me acalmei.
Passei o resto da tarde descansando (e bastante entediada).
Sábado – 31/01 – 39 semanas e 5 dias
Acordei passando mal. Cólicas, vômito, dor de barriga, uma mal-estar generalizado somado ao cansaço físico. Tive certeza que o parto se aproximava mas não seria naquele dia. Estava cansada demais e precisaria de energia para aguentar. Achei que era um sinal para descansar e foi só o que eu fiz. Poderia apostar que entraria em TP no domingo ou na segunda-feira.
Aproveitei e tomei um banho de banheira para aliviar as dores das costas e tentei relaxar o máximo possível.
Domingo – 01/02 – 39 semanas e 6 días
A primeira certeza dessa gravidez: meu bebê nasceria em fevereiro.
Nenhum sinal de TP. Acordei me sentindo melhor e mais disposta. As cólicas foram embora mas a coluna piorou de vez. Tive muita dificuldade para subir e descer as escadas e andar estava quase impossivel.
Fomos obrigados a ligar para os meus sogros e pedir ajuda. Eu não conseguiria cuidar do E. durante a semana, se precisasse e I. não poderia mais tirar nenhuma folga do trabalho para me ajudar. Por mais que eu odeie depender dos outros, sabia que ele ficaria mais tranquilo com os pais aqui e poderia se concentrar no trabalho. Ficou combinado que eles viriam para Dublin na terça-feira (eu ainda achava que teria o meu bebê antes disso).
I. foi um amor o dia todo e fez tudo para que eu ficasse bem e feliz. Ele passou o dia arrumando a casa, cozinhando e tomando conta do E. para eu descansar. Fizemos até um bolo de chocolate os três juntos, eu sentada dizendo o que precisava ser feito e os dois com a mão na massa.
A noite, depois que E. foi para a cama, nós jantamos curry na sala, com a lareira acesa, assistindo TV e eu tomei até meia pint da minha cerveja preferida, com direito a bolo de chocolate de sobremesa. Uma noite praticamente perfeita. Fui dormir super feliz e tranquila.
No meio da madrugada eu acordei de novo com cólicas (mas já não considerava isso como um sinal de TP próximo) e muita dor nas costas. Levantei para ir ao banheiro e cada passo era uma tortura. Tomei um paracetamol para dor, sentei na cama e chorei muito. Só parei quando decidi que na manhã seguinte ia pedir que I. me levasse de volta ao hospital para pedir por uma indução. Não aguentava mais aquela dor, aquela dificuldade de me mexer.
Sosseguei quando já era quase de manhã e consegui dormir por algumas horas. Mal sabia que logo mais estaria com Elena nos braços.
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N.
16 Comments
Gabriela Grossi
February 9, 2015 at 4:42 pmEeeee, parindo o relato :-)!!!! Nossa Nívea, com essa dor nas costas, eu já teria pedido pra sair muito antes. Que delícia tudo ter dado tão certo!!! Bom, acho que você vai contar mais pra frente, mas como tem sido sua recuperação? A dor nas costas se foi? Elena parece um amor, parece ser bem serena. Beijos e muito leite e amor por aí
Nivea Sorensen
February 13, 2015 at 5:02 pmGabriela, obrigada. A dor tem melhorado aos poucos, vou contar em breve. x
Mari
February 9, 2015 at 5:43 pmAiii, fiquei arrepiada aqui! Tenho essa mania de ficar lembrando de como eu era, o que eu sentia e como pensava antes dos grandes acontecimentos. É incrível como algumas horas mudam completamente a nossa vida, né?!
Tô muito, muito feliz por vocês! :*
Ah, e tá na hora de mudar seu perfil, né? “Nivea Sorensen, (…) mãe de dois filhotes de irlandês: um do cabelo vermelho e muito fogo na fralda e outra de olhinhos curiosos e sorriso fácil (…)”
Nivea Sorensen
February 13, 2015 at 5:03 pmAh, adorei Mari… To precisando atualizar mesmo x
Bibi
February 9, 2015 at 6:04 pmAi… que legal!!! Adorei!!!
E o (lindo) nome, Níveia?!?
Me conta como escolheram?!?!?
Nivea Sorensen
February 13, 2015 at 5:03 pmConto em breve, Bibi x
Fabiane
February 9, 2015 at 6:35 pmNívea, eu tenho um desvio na coluna que sempre me tira o sono, nem quero imaginar o que você passou com a barriga enorme da Elena. Amei a foto do seu esposo com o E. na cozinha <3
Nivea Sorensen
February 13, 2015 at 5:04 pmObrigada, Fabiane x
Manuelle Maia
February 9, 2015 at 8:44 pmAi Nivea, todo esse desconforto, fostes guerreira de aguentar atè o finalzinho!
Coisa pior do mundo è ter aquela dor que nao passa, nè! E sem poder se locomover, entao.. nossa, nem imagino o que faria se fosse eu nessa situaçao.
Esperando o relato do parto da Elena! 😀
Beijooo
Nivea Sorensen
February 13, 2015 at 5:04 pmAgora que passou nem lembro, Manu 😉 x
Camila Lins
February 9, 2015 at 11:16 pmLindíssimo!
Nivea Sorensen
February 13, 2015 at 5:04 pmObrigada, Camila x
Bárbara Hernandes
February 10, 2015 at 12:25 amNivea, você é uma excelente contadora de histórias! Já estou doida pra ler o próximo relato!
Nivea Sorensen
February 13, 2015 at 5:05 pmObrigada, Bárbara x
Cintia Romano
February 10, 2015 at 10:32 amTo aqui curtindo muito ler sobre a chegada da Elena! Ahhh e não canso de babar nela, como é linda!!! S2
Nivea Sorensen
February 13, 2015 at 5:05 pmObrigada, Cintia x