Da imaginação para a memória

Antes mesmo do E. aparecer pra gente numa tela de ultrassonografia I. e eu já imaginávamos como seria levá-lo ao cinema pela primeira vez. Na minha lembrança essas conversas de “imagina o dia que a gente for ao cinema” aconteciam quase sempre que pensávamos no futuro da gente como família e eram tão comuns quanto pensar num nome para ele, ou que carinha ele teria.

Provavelmente porque tanto eu quanto I. adoramos cinema. Desde pequena esse sempre foi meu programa preferido. Desde que eu tinha 5 anos e assisti E.T. numa telona (com legenda em português e minha madrinha lendo todas as falas para mim) até hoje, uma ida ao cinema (nem precisa de pipoca, muito menos de companhia) é das coisas que mais me deixam feliz. Por isso todas as vezes que a gente arruma uma babá para ficar com E., é para o cinema que a gente corre.

Até por isso a gente estava esperando que o E. fosse um pouco mais velho para levá-lo, para que ele pudesse se lembrar desse dia. Além disso, ele não para quieto nem assistindo TV em casa, não achamos que ele fosse ficar sentado por tanto tempo no cinema. Mesmo assim, no sábado à noite I. sugeriu que esse fosse nosso programa de domingo e resolvemos arriscar.

Escolhemos à sessão para crianças às 11 da manhã, num shopping center. O filme era Despicable Me 2 (Meu Malvado Favorito 2). O horário era ótimo porque é antes do almoço e da soneca e E. está normalmente de bom humor. Compramos ingressos e um balde de pipoca e entramos antes mesmo dos trailers e propagandas. E. sentou entre eu e o pai, num booster seat oferecido pelo cinema para poder enxergar a tela e lá ficou até quase a metade do filme. Só depois desse período ele começou a ficar impaciente e acabou sentando no colo do pai. Por duas vezes chegamos a pegar as coisas para ir embora porque ele estava reclamando, mas ele voltou a se concentrar, seja no colo do pai, ou em pé (com a cabeça entre as poltronas da frente que estavam vazias).

E. adorou a experiência, deu risada, repetiu muitas das falas, gritou vários “oh, no” e “olha!”, pareceu anos mais crescido e me fez chorar. No final ele ainda ficou pedindo por “mais cinema”. Para completar o dia deixamos ele escolher o que almoçar e ele preferiu pizza ao McDonald’s. Almoçamos juntos e apesar de já cansado (estava na hora em que ele dorme à tarde) ele manteve o bom humor.

O dia foi tão bacana que definitivamente vamos transformar a ida ao cinema num programa mensal, dependendo, claro, das opções de filme apropriados para a idade dele.  Eu sei que ele nem sempre vai se comportar tão bem, ficar quieto ou aguentar até o final, mas acho que já dá para aproveitar alguma coisa.

Da próxima vez, aliás, não vou me esquecer de levar o macaco de pelúcia “cacão” que ele gosta de abraçar quando fica cansado e quando assiste TV. Se tivesse levado, junto com a chupeta, ele teria dormido no carro na volta para a casa (ele voltou chorando de cansaço). Também vamos procurar entrar na sala só na hora que o filme estiver para começar.

Ele vai se lembrar dessa primeira vez? Não. Mas quem disse que a gente vai esquecer?

N.

PS. Eu não me lembro da primeira vez que fui ao cinema, mas fui contada essa história tantas vezes que se fechar os olhos eu consigo me “lembrar” daquele dia.