Sobre o tempo

“(…)Quando vierem fechar meus olhos,
talvez não se deixem fechar.
Talvez pensem que o tempo volta,
e que vens, se o tempo voltar.” (Cecília Meireles)

Hoje E. faz 5 meses e, desnecessário dizer, o tempo para mim vôou.

E por falar em tempo, esse  já mudou aqui em Dublin. Não sei se oficialmente, mas o verão já deixou de ser. Levou com ele os dias longos e o quase calor de final de tarde. As folhas amareladas das árvores pelo chão, a noite que chega cada vez mais cedo, a chuva que começa a cair diariamente e o vento que anunciam o outono já me lembram que não demora o inverno a se aproximar.

Ouço por aí os primeiros lamentos de adeus ao sol. Mas desse tempo, o de muito frio, de neve e de pouca luz eu não tenho medo. Para quem já viveu uma escuridão que parecia não ter fim, o inverno só vem me lembrar que tudo passa. Não existe verão infinito e nem inverno que dure para sempre.

Enquanto isso, do lado de cá da janela do apartamento, o meu pequeno, aprendendo a se manter em pé com o auxílio do braço do sofá, observa o tempo lá fora. Olha o vento e a chuva que cai. Faz disso agora seu brinquedo preferido, olha atento, sorri ao ver o balanço das árvores. Fala consigo mesmo, sinal de que está feliz.

Quando as pernas já não se aguentam, basta sentá-lo e colocá-lo de frente para a outra janela. E lá ele fica de novo a observar…

… Até se cansar.

Já eu peço ao tempo que comigo seja generoso. Que não corra muito rápido, que não pare por completo, que não me permita esquecer esses primeiros 5 meses em que tudo o que ele tem para mim são sorrisos, onde tudo é ao mesmo tempo tão simples e tão incrível.

Porque o tempo que apaga as melhores lembranças, esse sim eu temo.

Peço ainda que antes que fechem os meus olhos eu possa a esse mesmo tempo voltar, nem que por um minuto, nem que seja só para me lembrar.

N.