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depressão

Plano de recuperação

Já tem algum tempo que eu não ando muito bem. Várias semanas, para ser um pouco mais exata.

Começou com uma mudança sutil na minha medicação que mexeu um pouquinho com meu sono, depois foi uma gripe que me pegou de jeito, seguida por outra ainda pior (que também deixou marido e filhos doentes) o que resultou num mês inteiro me sentindo muito mal.

Passei muitos dias de cama, me alimentando mal, o que deu início a um ciclo vicioso e bastante perigoso para quem sofre de depressão como eu: não tinha forças para me exercitar (o que é fundamental para o meu bem-estar), o que foi me deixando cada vez mais cansada; por estar muito cansada comecei a exagerar no consumo de massas e doces, ficando ainda mais cansada e, pior, culpada. Deixei de meditar, de cuidar de mim e passei a me arrastar pelos dias, contando os minutos para voltar para cama.

Fisicamente foi um período muito difícil que acabou me afetando mentalmente.

Ontem, exausta com essa situação e preocupada com meu bem-estar (e com a minha família) resolvi colocar em ação um plano de recuperação, uma das coisas que aprendi durante a minha internação. Não posso simplesmente esperar que a vontade de fazer algo por mim apareça porque sei que isso não vai acontecer. Nesse momento é preciso me obrigar a tomar algumas atitudes, bem simples, que com o passar do tempo, vão fazer com que eu me sinta melhor e a vida volte a seguir seu rumo.

Para quem não entende o que é depressão deve parecer uma bobagem sem tamanho, mas para quem sofre com a doença essas coisas simples exigem um esforço muito, muito grande. Eu, por exemplo, tenho andado tão, mas tão exausta, que preciso descansar depois de lavar o cabelo.

Antes de ir para cama ontem, então, anotei num caderno algumas coisas para serem feitas hoje. Ficou assim a minha lista:

  • Meditação guiada  (2o minutos);
  • Caminhada ao ar livre com as crianças (pelo menos 20 minutos) – exercício leve, ao ar livre, nesse caso para mim é melhor do que ir à academia, uma vez que não estou fisicamente muito bem e o tempo disponível hoje era bem curto. Além disso, levar as crianças para uma volta também era importante, já que Erik está de férias essa semana;
  • Colocar roupas na máquina para lavar – quando não estou bem tenho a tendência de querer fazer demais, então era preciso focar numa única atividade doméstica que realmente precisava ser feita hoje (ao invés de me perder entre milhares de coisas que poderiam esperar);
  • Usar técnica dos 10 minutos para colocar a casa em ordem ( especificamente a cozinha e os brinquedos espalhados) – Coloco o alarme e durante 10 minutos organizo o máximo que posso, sem me sentir pressionada a fazer mais e mais e sem saber quando parar. Isso porque a bagunça externa me incomoda muito quando não estou bem mentalmente e não consigo relaxar se não colocar ordem nas coisas;
  • Tomar 4 copos de água;
  • Tomar um café-da-manhã saudável e sem exageros;
  • Comer frutas, yogurtes e castanhas ao invés de pão nos lanches da manhã e da tarde;
  • Escrever no blog (por pelo menos 20 minutos, se não houver mais tempo);
  • Marcar um horário no cabeleireiro;
  • Ligar para o banco (e resolver uma pendência que está na minha lista de coisas a fazer há um tempo);
  • Seguir rotina noturna (banho quente, cuidados com a pele, desligar todos os eletrônicos, ler e escrever no diário de 5 anos);

Confesso que quando acordei hoje pela manhã e me lembrei da lista me senti um pouco melhor, como se meu dia tivesse ganhado um pouco mais de sentido, um pouco de foco.

Antes do final da manhã, no entanto, tive uma pequena crise nervosa e precisei de muita força de vontade para seguir com o plano e não dar o dia como perdido.

No entanto, quase no final da tarde agora (e com quase todos os itens ticados da lista) eu me sinto um pouco melhor.

Amanhã eu volto para contar o resultado final e meus próximos passos.

N.

About Author

42 anos; brasileira que mora na Irlanda; mãe de um filhote de irlandês do cabelo vermelho e muito fogo na bunda, de uma pimentinha de olhos grandes e curiosos e de uma caçulinha que é só sorrisos.

24 Comments

  • Grace
    May 3, 2016 at 5:15 pm

    Força Ni!
    Mesmo de longe torço por você. Também não estou nos meus melhores dias, mas nem de longe imagino como é para você.
    sinta-se abraçada,
    Grace

    Reply
  • Maíra Moreira
    May 3, 2016 at 5:15 pm

    Volta para nos falar! 🙂
    Estamos lhe esperando…

    Reply
  • Maria Paula
    May 3, 2016 at 5:39 pm

    Sei exatamente do que vc está falando. Tb sofro de depressao há anos e tomo medicação sem interrupção. Tenho altos e baixos. Trabalho muito ( e gosto) mas conciliar casa, trabalho, filho, tempo pra nós…. A bagunça externa me tira do prumo totalmente e listar as tarefas realmente ajuda…. Mas já é difícil sem a doença e com ela as vezes parece impossível. Sinta-se abraçada e saiba q sem nunca ter te encontrado realmente torço pelo teu melhor. Beijo

    Reply
    • Nivea Sorensen
      June 7, 2016 at 5:37 pm

      obrigada, Maria Paula. Muito bem-estar pra você também x

      Reply
  • Mari Spil
    May 3, 2016 at 5:56 pm

    Oi Nívea
    Não sofro com essa terrível doença e nunca convivi de perto com alguém que a sofresse, por isso cada relato seu é um mundo novo. Não imaginava como é difícil, mas à medida que aprendo sinto mais empatia pelas pessoas que a sofrem. Queria te falar de como os teus relatos estão sendo de grande valia para pessoas que, como eu, não tinham um conhecimento melhor da depressão.
    Pessoalmente, também gosto muito de ter uma lista para me dar foco. Como pessoa naturalmente dispersa que sou, acho que manter as tarefas organizadas, em um papel, na minha frente, e poder ir ticando os itens, dá um senso enorme de missão cumprida.
    Espero que a estratégia seja um sucesso e olha, essa técnica dos 10 minutos estou pensando seriamente em aplicar também! Por vezes tenho a sensação que o trabalho de organização nunca tem fim. Se eu continuar, sempre vai ter mais para organizar.
    Um grande abraço! Estou orando por você.

    Reply
  • Mariana
    May 3, 2016 at 6:18 pm

    Força, querida! Você não está sozinha nessa caminhada. Você vencerá mais essa fase ruim. Sinta se abraçada e afagada

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  • Andreia Gimenes
    May 3, 2016 at 7:48 pm

    Ao ler seus relatos sempre me identifico vez ou outra. Mas hj especificamente parece que era eu escrevendo. Estou me sentindo exatamente assim. Sofro com depressão desde 2004; tomando medicação sem interrupção. Existem tempos bons; e existem tempos muito difíceis! Desejo força para vc . Não é fácil, eu sei… Mas aprendi que somos nós contra nós mesmo! Um beijo grande de quem te admira muito! Andreia Gimenes!

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  • Fernanda Brison
    May 3, 2016 at 7:57 pm

    É isso aí, podemos sempre recomeçar. Parabéns, N.

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  • Diva Moreira
    May 3, 2016 at 8:42 pm

    Nívea querida, minha torcida sempre está com você. Recomeçar já é um passo para melhorar. Vai dar certo, não desista! Continue colocando no blog, aqui todos estamos com VOCÊ! Fique bem. Minhas orações continua com você. Beijos

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  • Izabel Bicalho
    May 4, 2016 at 1:57 pm

    Muito bom ver você usando suas armas pra não se deixar cair.
    Força, coragem e não deixe de lutar.
    Vou deixar um link de uma música que me identifico na minha busca por quem eu sou e que as vezes deixo ir….
    https://www.letras.mus.br/sandy/me-espera/#legenda
    Todo o pensamento positivo pra que você encontre o seu bem estar novamente.
    Beijos e abraços carinhosos,
    Izabel

    Reply
  • Fernanda
    May 5, 2016 at 7:26 am

    Cuide de se própria, seja gentil consigo mesma. Espero q esta fase passe logo, logo.

    Abraços,

    Fernanda

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  • Juliana
    May 5, 2016 at 2:25 pm

    Isso! Querida Nivea,
    Não podemos dar trégua a essa doença que nos incapacita. Pois é um dia atrás do outro. Um bem, outro nem tão bem, e a força tem que vir sempre, pois pode ser muito difícil às vezes.
    Beijos. Fica bem. Você é uma guerreira. Eu também estou lutando. 🙂

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  • Juliana
    May 5, 2016 at 4:13 pm

    Às vezes é tanto sentimento de culpa, culpa de não conseguir viver no presente, de viver com a cabeça no futuro. Culpa por não estar feliz em todo momento, culpa por achar que magoei os outros quando magoo a mim mesma. De ser preguiçosa, de esquecer de fatos que me contaram e perguntar de novo, sendo que minha cachola deveria memorizar isso. Enfim…é tanta coisa na cabeça que acho que não vou dar conta, mas lutar sempre e com um sorriso no rosto, nem que seja de “mentirinha” 🙂 🙂

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