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Pretensões e Desabafos

Em 2016 eu vou … { praticar mindfulness }

Você está parada no sinal vermelho de um farol de trânsito, se distrai e não percebe que os sinal abriu até o carro atrás de você começar a buzinar. Você está lendo um livro e de repente percebe que não entendeu o que acabou de ler e precisa voltar a ler o mesmo parágrafo. Durante uma conversa com uma amiga lembra que precisa passar no supermercado e não ouve o que ela acaba de te perguntar. Ou então você está no banho estudando para aquela prova ou se preparando mentalmente para uma reunião importante. Aliás, me diz qual foi a última vez que você SÓ tomou banho, sem pensar em mais nada?

Tudo isso acontece quando nosso corpo está num lugar e a mente em outro, num estado de desatenção, de piloto-automático, muito comum nos dias de hoje em que as coisas acontecem numa velocidade incrível, em que muita informação está disponível e todo mundo quer fazer mil coisas ao mesmo tempo agora.

O oposto disso é um estado de consciência e de atenção que em inglês a gente chama de “mindfulness”, “atenção plena” em tradução para o português.

Mindfulness então virou sinônimo de uma técnica de meditação, ou conjunto de exercícios, ou ainda uma filosofia de vida, com origem no budismo (mas sem conotação religiosa), tudo com o objetivo de atingirmos esse estado de atenção plena, de estar consciente do que acontece agora sem desejar que as coisas sejam diferentes.

É muito simples, mas muito difícil de explicar, como tudo que é muito simples. É tão simples quanto respirar mas a gente não percebe isso. No começo os exercícios parecem idiotas e a gente acha que não entende, ou que está fazendo errado, ou que não leva jeito para a coisa, talvez porque a gente está tentando demais quando o segredo é justamente parar de tentar. Um pouco de insistência no assunto e muita, muita prática são necessários até que a gente perceba como são incríveis os resultados.

Eu já tinha ouvido falar e já praticava um pouco de meditação (mas ainda sem muito compromisso e sem entender muito bem o que estava fazendo) antes da minha última crise de depressão, mas foi só após a internação numa clinica psiquiátrica que a “atenção plena” passou a fazer parte da minha vida.

Para se ter ideia de como a coisa é séria e funciona  exercícios de mindfulness eram sempre a primeira atividade do dia na clínica, usados como tratamento de distúrbios mentais tanto quanto a terapia cognitiva e a medicação, tudo com mesmo peso e importância.

Isso mesmo. Hoje em dia, a prática de mindfulness é considerada por psiquiatras e psicólogos extremamente eficaz no tratamento de depressão, distúrbios de ansiedade, crises de pânico e outras doenças mentais.

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Mas se engana quem pensa que só serve para isso, que é coisa para quem sofre desse tipo de doença. Estar presente é sem dúvida estar mais feliz. Eu disse aqui uma vez, e repito, que só existe vida no presente. Viver está em presenciar as pequenas coisas, o que acontece no dia-a-dia, e não no passado ou no futuro.

Quanto da nossa vida a gente passa no presente? Pouco, muito pouco (estima-se que menos da metade). A gente escova os dentes pensando no café-da-manhã, toma café-da-manhã, pensando no trabalho, trabalha pensando em voltar para casa. Acorda na segunda-feira esperando pela sexta. E quando a gente vive mesmo?

No entanto, o tempo é a coisa mais preciosa que a gente tem. E o que a gente faz com ele? Deixa passar. Vive pensando na próxima atividade, na próxima hora, no dia seguinte, no que vai fazer depois. Não consegue fazer uma coisa só por vez e acha isso um dom.

Pensa bem, se você tivesse nascido com todo o tempo da sua vida dentro de uma garrafa você beberia tudo de uma vez, ou tomaria goles pequenos, aproveitando cada gota com vontade e gosto? Já pensou nisso?

Eu passei boa parte da minha vida achando que legal era ser multitasking, fazer várias coisas ao mesmo tempo, achando que um banho de banheira, que meditação, que tudo isso era bobagem e perda de tempo. Eu achava inclusive que era legal considerar essas coisas uma perda de tempo.

Agora o que eu percebo é que procurar por calma, por espaço, por viver o presente nesse mundo onde todo mundo tem pressa é uma atitude quase revolucionária.

Eu não sei você, mas eu só tenho essa vida e quero que ela dure ao máximo, aproveitando cada momento dela com toda a minha atenção.

N.

PS. um post só jamais seria suficiente para cobrir esse assunto então eu volto numa outra oportunidade com dicas para quem se interessa pelo assunto.

About Author

42 anos; brasileira que mora na Irlanda; mãe de um filhote de irlandês do cabelo vermelho e muito fogo na bunda, de uma pimentinha de olhos grandes e curiosos e de uma caçulinha que é só sorrisos.

10 Comments

  • Mariana Spil
    March 10, 2016 at 12:52 pm

    Interessante! Já tinha escutado o termo, mas confesso que não tinha nem procurado saber do quê se tratava. Graças a tua explicação, percebo que vem de encontro a algo que tenho pensado bastante ultimamente. Estar presente plenamente, ao invés de estar presente só fisicamente.

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  • Gabi
    March 10, 2016 at 3:27 pm

    Nivea, gostei muito desse post. Eu sou uma pessoa prática, que quer resolver tudo, o tempo todo. Estou num momento delicado, que vou me mudar, mas ainda falta tempo, então estou tocando a vida aqui pensando no futuro, e de novo, tentando ser prática. Logo, eu to com a cabeça sempre lá na frente. Tenho tentado trabalhar na terapia porque preciso respirar mais, focar mais, me dar um tempo, sabe?
    Gostei muito <3

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    • Nivea Sorensen
      March 11, 2016 at 12:01 pm

      Gabi, desde que tenho praticado com frequência tenho me tornado muito mais prática porque o que eu faço ganha foco, sabe? Vale a pena dar uma pesquisada no assunto x

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  • Michele
    March 10, 2016 at 7:41 pm

    Nivea, eh muito bom ver que vc esta se recuperando tao bem. Um dia se vc tiver vontade fala um pouco do seu desafio em dirigir. Te acompanho faz um tempo e vc me inspira em muitas coisas e essa eh uma delas. Morro de medo de dirigir, mas agora nao tenho saida, e estou aprendendo. Tb tenho q praticar com meu filho reclamando e as vezes desanimo. Mas ai lembro dos perrengues que vc ja passou por nao dirigir e isso me motiva. Adoraria ouvir algumas dicas. Tudo de bom, mesmo nao comentando muito, fico aqui torcendo por vc e sua familia. Grande abraco

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    • Nivea Sorensen
      March 11, 2016 at 12:01 pm

      Michele, obrigada, vou falar no assunto, sim. x

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  • Dayse Koschier
    March 10, 2016 at 9:11 pm

    Oi Nívea,

    Conheci a filosofia do Mindfulness através da minha revista preferida que se chama “Flow” (é holandesa, mas tem a versão em alemão,inglês e frances) e é focada em tudo que tem a ver com a psicologia positiva. Uma coisa linda cheia de ilustrações e matérias maravilhosas. Eles citam constantemente tudo o que diz respeito ao Mindfulness e inclusive já trouxeram uma entrevista especial com o Jon Kabat Zinn, que foi a figura mais importante a trazer a filosofia para a medicina, se não me engano, além de criar o método do Mindfulness Training para a redução do estresse. Enfim, como eu trato um distúrbio de medo e ansiedade (faço terapia comportamental e amo), a filosofia do Mindfulness também me ajuda muito bem a desacelerar no cotidiano seja nos pequenos detalhes. Tenho o plano agora de me organizar para fazer o training de oito semanas aqui na Alemanha porque descobri que a assitência médica aqui paga boa parte do MBSR programa como curso de saúde preventiva pra quem quiser fazer! Espero que esse novo olhar sobre a vida também te traga um maravilhoso bem-estar e seja revolucionário por aí também. Beijos de Berlim!
    Dayse

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  • Nivea Sorensen
    March 11, 2016 at 12:03 pm

    Dayse, eu quero fazer o curso também mas vou precisar juntar o valor já que aqui não existe esse tipo de cobertura. Vou dar uma olhada se encontro a revista por aqui. Obrigada x

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  • Dayse Koschier
    March 12, 2016 at 10:48 am

    dá uma olhada aqui http://www.flowmagazine.com

    Beijos.

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  • Carlos Santos
    July 1, 2016 at 11:37 pm

    Belo poste, adore o que você passa para nós leitor .

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