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depressão / Pretensões e Desabafos

The good, the bad and the ugly*

Ou melhor, the bad and the ugly porque o good mesmo eu falei aqui.

Se o o saldo final da minha internação num hospital é extremamente positivo (e se não fosse eu não estaria aqui agora escrevendo) eu jamais poderia negar o lado negativo da experiência como um todo.

Então, até como parte do meu processo de recuperação eu preciso escrever sobre isso. Optei por não ordenar os motivos, até porque não conseguiria dar uma ordem ou determinar qual o pior deles (com a única excessão de um deles, o mais óbvio se você lembrar que eu sou mãe). Segui portanto, uma ordem aleatória. 

Estar aqui. Por si só estar aqui é difícil. Vamos dar nome aos bois, isso aqui é um hospital psiquiátrico. Ninguém pode estar OK com o fato de estar internada num hospital psiquiátrico. Estar aqui significa muitas coisas que não são exatamente legais.

O que significa estar aqui. Todos os pacientes aqui são portadores de doenças mentais. EU sou portadora de uma doença mental.

A preocupação de quem sabe que você tem uma doença mental. Receber a noticia que alguém da família, que alguém querido, um amigo ou mesmo um conhecido está internado, e mais do que isso, está internado num hospital psiquiátrico é um susto. Ou eu imagino que deva ser (diz aí se estou errada). Desnecessário dizer que eu preferia que as pessoas que eu amo (e que me amam) fosse poupadas disso, em especial minha mãe e irmã que estão fisicamente muito distantes e incapazes de ver meu bem-estar agora.

O que me trouxe até aqui. Eu tenho DEPRESSÃO, uma doença que pode ser devastadora, uma doença que mata e causa muito sofrimento para todo mundo ao seu redor.

Como eu cheguei aqui. Num estado que eu preferia esquecer, se isso me fizesse qualquer bem. Para simplificar muito o que não pode ser simplificado, eu preferia estar morta do que aquele sofrimento todo.

Meus filhos. Uma saudade absurda, uma falta que nunca é remediada, noites sem histórias, sem beijos de boa noite. Dias inteiros sem o riso deles. Sem o cheiro. Primeiras vezes perdidas. Ausência.

O peso do peso dos outros. Todo mundo aqui tem problemas. Além dos problemas que todo mundo tem em qualquer lugar as pessoas aqui tem problemas mentais, como eu disse anteriormente, que são normalmente associados com pensamentos extremamente negativos. Muitas vezes têm também limitações físicas por conta da idade ou ainda um outro tipo de doença como parkinson e alzheimer. Como todos convivemos no mesmo espaço, e não confinados em quartos, é comum que todo mundo se ajude, que todo mundo se escute. É ótimo assim e não deveria ser diferente. Ao mesmo tempo, em alguns momentos do dia, ou até dias inteiros, eu me vejo tomada pela negatividade alheia, por problemas que eu não posso resolver, por coisas que eu não posso falar (não sou psicóloga ou terapeuta e por mais que algumas coisas fiquem claras para mim, olhando de fora, eu não posso interferir), por um peso que eu não posso carregar, especialmente num momento em que eu mesma não estou inteira. Com as dificuldades físicas, essas sim eu posso e estou sempre disponível. Sirvo o café-da-manhã, corto comida do prato, levanto mil vezes da mesa para pegar algo que alguém precisa. Ajudo a levantar, assisto novela ou futebol, faço tricô. Depois e antes de cada refeição, sempre que possível e de acordo com a minha disponibilidade, ajudo os enfermeiros a tirar e colocar a mesa, encher e esvaziar a lavadora de louças, arrumar a cozinha. Enfim, faço o pouco que eu posso. O difícil mesmo é ouvir milhões de vezes alguém culpar todo mundo pelos seus problemas e não conseguir ver que ela mesma é quem precisa se ajudar. Ou conviver com quem tem pânico de ficar sozinho e pede companhia 24h por dia, o que me obriga a pedir um pouco de privacidade porque eu também tenho que aproveitar esse tempo aqui para cuidar de mim e tenho que seguir com o meu tratamento. É ser obrigada a dizer “não” quando dizer “sim” não vai ajudar ninguém a vencer a doença. É ouvir ao longo de um dia alguém repetir a mesma história IN-FI-NI-TAS vezes, no seu horário de almoço, durante a caminhada diária, durante as terapias em grupo, em todos os momentos em que você a vê.

Como nada nessa vida é só bom ou só ruim, esse período para mim tem sido de aprendizado mas eu confesso que não vejo a hora de estar em casa.

E só para situar, hoje completo 24 dias de internação e já me preparando para a alta em alguns dias.

Obrigada mais uma vez por todas as mensagens de carinho e apoio. Keep them coming porque meu caminho ainda é muito longo.

N.

* “The good, the bad and the ugly” é um filme bem famoso cujo título foi adaptado para o português como “Três Homens e um Conflito” mas que originalmente significa “o bom, o ruim e o feio”.  

About Author

42 anos; brasileira que mora na Irlanda; mãe de um filhote de irlandês do cabelo vermelho e muito fogo na bunda, de uma pimentinha de olhos grandes e curiosos e de uma caçulinha que é só sorrisos.

15 Comments

  • Mariana
    December 9, 2015 at 12:10 pm

    Oi Nívea! Só imagino como deve estar sendo difícil estar longe das crianças. Estou torcendo e orando por tua recuperação, não vou dizer “o mais rápido possível”, porque acredito que nem sempre o “rápido” quer dizer “bom”, mas sim “da melhor maneira possível”.
    Um grande abraço!

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  • Renata Marques
    December 9, 2015 at 1:36 pm

    Olá Nivea. Para quem acompanha o blog (falo por mim) foi relevante essa sua abertura para falar do internamento. A maioria de nós desconhece o que é estar num hospital psiquiátrico sendo paciente, Que esse mês traga benefícios permanentes na sua vida, e que seja um tempo frutífero, um tempo de investimento em saúde e boa disposição. Abraços,
    Renata

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  • ká melo
    December 9, 2015 at 2:30 pm

    Olá,

    Li os seus relatos e imagino o lado positivo e negativo desse processo. Porém, nos anos de 2010 e 2011 também estava me sentindo exausta, desanimada e vivendo um grande conflito, pois eu tinha uma vida perfeita e não tinha motivos para me sentir desmotivada e triste. Era tanta exaustão física que chegava a “doer”. De inicio tomei remédios para depressão, mas pouco adiantou! Foi quando descobriram um nódulo na minha tireoide. Depois que passei a tomar os remédios todos os sintomas foram desaparecendo.
    Não estou indo de encontro ao seu diagnostico de depressão, até pq quando os hormônios não estão em equilíbrio causam depressão. Mas talvez o seu problema tb tenha alguma ligação com problemas físicos. Não sei como funciona os hospitais e planos de saúde fora do Brasil, mas com a descoberta do nódulo da tireoide e o tratamento correto, todos os sintomas que eram bem semelhantes ao seu foram embora!
    Melhoras pra você! Que Deus te abençoe!!!

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    • Nivea Sorensen
      December 9, 2015 at 2:38 pm

      Ká, eu agradeço imensamente sua mensagem e seu depoimento. Eu sofro de depressão há muitos anos já e a cada episódio a gente refaz todos os exames possíveis para descartar qualquer possibilidade que seja outra coisa. Seria mais fácil se fosse outra coisa, e muitas vezes eu desejei que fosse mesmo qualquer outra doença, mas tenho sintomas clássicos e bem claros. Obrigada pelo carinho e um beijo meu.

      Reply
  • Paula Oliveira
    December 9, 2015 at 2:31 pm

    O peso do peso dos outros deve ser mesmo uma das piores partes. Desejo que vc possa estar logo em casa com seus filhos e que tudo venha a melhorar.
    xx

    Reply
  • mariana
    December 9, 2015 at 8:02 pm

    Oi Nivea! ai, fico feliz com a noticia de que a alta não demora!… vc tem sido tao corajosa! muita forca agora. fico aqui na torcida e esperando noticias. sei que não poderá vir ao baby shower mas espero que a gente se encontre mais pra frente pra vc ver meu barrigao (ou o baby!) e eu conhecer os fofos da Elena e do Eric. Beijos

    Reply
  • Ana
    December 9, 2015 at 11:21 pm

    Eu te vejo uma pessoa tão forte. Mas eu vejo essa sua força exatamente nesses momentos que você se mostra mais vulnerável. Torço muito pela sua melhora, por você voltar logo pra casa, pra encher os filhotes de beijos. You are doing a great job! Well done!

    Reply
  • Ricardo
    December 10, 2015 at 11:44 am

    Nívea, sua linda! Vai ficar tudo bem, voce vai ver. Voce é corajosa e super forte, nao é qq uma que enfrenta um problema desse porte de frente e de mente aberta assim. Um passinho de cada vez e voce vai superar. E seus filhos, ahh…qdo eles entenderem tudo certinho, vao ser SUPER ORGULHOSOS da super mama que voce é! Torcendo por voce e mandando energias positivas! <3

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  • Fernanda
    December 10, 2015 at 12:06 pm

    Olá Nívea, leio seu blog faz tempo mas nunca comentei. Dessa vez farei diferente. Sinceramente espero que você consiga em breve superar este momento e fique forte e capaz de retomar sua vida.
    Um forte abraço
    Fernanda

    Reply
  • Maira
    December 10, 2015 at 11:44 pm

    Nivia,

    Muita forca!

    De coracao… Quero muito te ver bem! Muitas vezes tuas palavras escritas no blog ja me fizeram forte quando eu estava fraca!

    Tu eh uma guerreira!

    Reply
  • Cintia Romano
    December 10, 2015 at 11:44 pm

    Nívea, receba meu abraço sempre <3
    Estou muito feliz pela possibilidade de vc ter alta em breve!
    Cada dia é uma pequena vitória! Fique bem, estou na torcida!
    Beijos

    Reply
  • Lai Cunha
    December 11, 2015 at 12:02 am

    Querida estou acompanhando sua luta e te respeito e admiro mais ainda pela sua coragem. Muitos sofrem dessa doença mas nao procuram ajuda, seja por medo, vergonha, falta de conhecimento. Torço para que vc volte logo para casa e que seus dias sejam repletos de doces momentos co o vc merece. Bjs

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  • Marília
    December 11, 2015 at 12:30 am

    Oi Nivea!
    Fico feliz de saber que a alta já está próxima e que você se recupera com essa força e lucidez. Acompanho vocês desde que Erik era bebê, eu acho, e sempre admirei essa força de vontade que você demonstra em tantos momentos. Me acostumei a gostar de vocês, a torcer por vocês, a assistir os vídeos de Elena como se fosse uma sobrinha querida <3 E assim "engrosso o coro" de quem vem aqui para dizer que torce e manda, mesmo de longe, amor pra você.
    Mas hoje também queria te agradecer.De alguma forma me lembras bastante minha mãe… e quando começaste a falar mais abertamente sobre depressão caiu completamente a ficha. Lembro de alguns episódios quando criança de minha mãe lutando contra a doença, mas a pior crise veio agora, eu aos vinte e poucos e ela aos quarenta e poucos. Eu vivendo meu primeiro episódio e ela o mais grave. Que dureza! Como é difícil compreender, relevar, ter empatia e ao mesmo tempo "pulso" para não acabar por incentivar alguns padrões. Como é difícil, pra mim,por outro lado ouvir críticas e conselhos, reconhecer seus próprios erros. Suas de alguma forma me ajudam a fazer essa conexão, comigo mesma e principalmente com ela. E isso faz um bem enorme ao nosso relacionamento, me ajuda a enxergar a pessoa e suas necessidades antes da "mãe" que eu tenho tanta sorte de ter.
    Por isso, meu muito, muito, muito, muito obrigada.

    Beijo bem grande!

    Reply
  • Andreia Michael
    December 12, 2015 at 1:46 am

    Oi Nívea!!!
    Deus te abençoe querida, vc está nas minhas orações me emocionei com seus relatos, requer muita força e maturidade pra escrever sobre esse momento tão difícil na sua vida e da sua família. Muita luz divina e força!!!
    Beijo grande

    Reply
  • Vandira Luiza
    December 12, 2015 at 3:28 pm

    Olá Nívea, é a primeira vez que escrevo aqui no seu Blog, mas estou sempre acompanhando você e torcendo muito pela sua recuperação! Eu te vejo tão forte, sensata e com uma clareza incrível da sua doença, das coisas a sua volta! Estou sempre lembrando de você em minhas orações e fico muito feliz por saber que em poucos dias estará com sua família! Você foi abençoada com dois filhos lindos e você é uma mãe maravilhosa! Que Deus abençoe você todos os dias, que torne seu caminho fácil e repleto de infintas alegrias!
    Um beijo super carinhoso e bom fim de semana!
    Vandira

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