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Meu babóg / Pretensões e Desabafos

Depois (Um Mea Culpa parte IV)

Em inglês existe um ditado que diz “you can’t have your cake and eat it” (literalmente: você não pode ter o bolo e comê-lo). Não funciona em português, eu sei, mas basicamente quer dizer que não se pode ter tudo na vida.

Eu cheguei a conclusão há algumas semanas que nesse momento eu não posso ter um negócio próprio e cuidar do meu filho ao mesmo tempo. EU não posso ter o MEU negócio e cuidar do MEU filho ao mesmo tempo. Ou seja, a mãe da prima da sua vizinha talvez consiga dar conta do negócio próprio e do filho, ou de três filhos, ou seja lá que diabos ela faz da vida dela e dos filhos dela. Tem gente que dá conta até dos filhos dos outros também, para você ver. Tenho certeza da existência de milhões de mulheres nesse mundo a fora exercendo as duas funções ao mesmo tempo. Muitas delas com maestria e todas merecedoras de prêmios, porque olha, não é fácil.

Só que EU não sei, ou melhor, não quero, fazer duas coisas pela metade. Não quero estar na cozinha enquanto meu filho está assistindo TV o dia todo. Não foi para isso que eu não voltei ao trabalho depois que terminou minha licença maternidade. EU quero estar perto, ou melhor, quero estar presente quando estiver com ele.

Além disso, meu filho é diferente do filho da prima da vizinha da cunhada da menina que escreve o outro blog materno, assim como toda criança nessa vida é diferente da outra. Cada uma precisa de um estímulo, cada uma reage melhor a um tipo de cuidado, de maternagem. O MEU filho, apesar de bastante independente, não curte muito brincar sozinho (ao contrário de mim que sempre preferi meus brinquedos à companhia) e gosta muito de atividades físicas. Morando num apartamento eu preciso garantir que ele consiga pelo menos uma vez ao dia sair e brincar ao ar livre, e que algumas vezes na semana tenha contato com outras crianças. Se eu estiver o tempo todo na cozinha como eu posso atender essa necessidade dele?

No fundo eu acho que nessa fase da vida meu filho precisa mais de mim do que eu preciso de realização profissional. Pensando nisso, tomei três decisões que estão sendo colocadas em prática aqui em casa e melhoraram muito a nossa vida:

1) REPENSAR o tipo de empresária que eu quero ser. Quero conquistar o mundo? Quero. Quero abrir mão do meu tempo com a família? De férias? Quero trabalhar TODO final de semana, sem pausa? Não. Ou seja, as duas coisas não combinam. Ninguém consegue fazer de um negócio próprio um sucesso estrondoso sem abrir mão de certas coisas. Sucesso envolve sorte, investimento, mas acima de tudo comprometimento e muito trabalho. Eu quero trabalhar sim, mas agora a prioridade é minha família. Me dei conta de que eu quero minhas encomendas eventuais, meus poucos clientes, e que se vez ou outra eu precisar falar não o mundo não vai acabar. Isso garante a minha satisfação pessoal, o bem-estar da minha família além de dar à minha produção um toque artesanal, de bolo da vó, que eu tanto gosto. Uma caixa com 12 cupcakes? Faço, claro. Agora, trezentos deles para uma festa? Desculpe, não posso.

2) DELEGAR. Um pouco menos de quantidade e mais qualidade para o meu filho. Passar com ele cerca de 11 ou 12 horas diárias é muito para a minha natureza calma e solitária. Não dou conta, minha paciência não resiste. Idealmente procuramos colocá-lo na escola três manhãs por semana (ou até todas as manhãs) mas ainda não conseguimos vaga. Enquanto isso ele continua na creche uma vez por semana e em outros dois dias conto com a ajuda de uma cuidadora por algumas horas. Durante esse periodo eu posso aproveitar e me dedicar a doçaria.

3) ESTAR presente. Ou seja, se estou com E. estou com ele. Não estou com ele e batendo um bolo (a não ser que seja um bolo para nós e ele esteja ajudando) e principalmente, não estou com o meu telefone. Nas últimas semanas reparei o quanto de tempo eu perdia com o telefone. O primeiro passo dado foi deletar o aplicativo do Facebook do aparelho. Agora mesmo que o telefone esteja por perto eu não perco tempo com a mais inútil das redes sociais (só dou uma olhada vez ou outra se estiver no computador).  E outra, o telefone até fica perto, claro, mas não fica na mão. Se tocar eu chego a tempo de atender, mas qualquer outra coisa pode esperar.

Até no tempo livre as redes sociais foram praticamente extinguidas, me sobrando muito mais tempo para ler ou para pensar, o que é sem dúvida mais proveitoso.

Preciso dizer que isso tudo me fez muito bem?

N.

About Author

42 anos; brasileira que mora na Irlanda; mãe de um filhote de irlandês do cabelo vermelho e muito fogo na bunda, de uma pimentinha de olhos grandes e curiosos e de uma caçulinha que é só sorrisos.

13 Comments

  • Mari
    June 17, 2014 at 4:57 pm

    Querida, fico muito feliz em saber que aos poucos as coisas tão se ajeitando. Eu também sou assim, quero abraçar o mundo com as pernas, e quando tiro uns dias pra repensar as prioridades tudo se encaixa.
    Aproveito pra falar que tô completamente apaixonada pela nova ilustra do blog! Tá linda, a sua cara!
    Um beijo grande e boa volta!

    P.S.: resolveu se render à Espanha? hahaha

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    • Nivea Sorensen
      June 24, 2014 at 3:24 pm

      Mari,
      Obrigada. Espanha? O que a gente não faz por um filho, me diz? x

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  • Fabiane
    June 17, 2014 at 6:03 pm

    Nívea, já falei que tenho admiração por você?!!! Sim, eu tenho…porque eu gosto da sinceridade em seus posts, se não está tudo bem, você fala e não tenta rotular sua família e sua vida em um comercial de margarina.

    Todos nos sabemos que a vida não é tão simples e que uns conseguem manusear com mais facilidade que os outros…e o mais importante você faz, que é identificar as falhas e tentar corrigi-las.

    Desejo muitooo sucesso nessa nova fase, e que você continue sendo essa mãe prestativa, o Erik vai te agradecer muito por isso, acredite!

    Bjo

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  • Bibi
    June 17, 2014 at 8:14 pm

    Nívea, E. é muito parecido com a Nina nessa questão de brincar, de gastar energia. Ela não brinca sozinha. Então, quando estamos com ela, ela quer atenção. E quando não estamos, ela quer também… hehehe
    Ela tem pavor quando estamos com o celular na mão. Quer desviar nossa atenção. Vê como criança percebe tudo, entende tudo.
    Com certeza fazer tudo o que vc fazia era muito. Eu nunca conseguiria.
    E vou te dizer: não consigo nem fazer o que vc está se propondo a fazer agora. Não consigo me ver em casa. Eu admiro muito quem consegue largar o trabalho e ficar em casa. Admiro mesmo. Eu me canso, me irrito. E olha, desejei muito ter ela, ser mãe. E às vezes me pergunto que merd@ de mãe eu sou por pensar assim. Mas aí penso que nem todo mundo pensa igual, tem as mesmas vontades, e podemos ser felizes assim.
    Acho que o caminho é por aí mesmo.
    O importante é vocês estarem bem, não importa como os outros fazem, o que importa é o que vc faz e sente que é bom para vcs.

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    • Nivea Sorensen
      June 24, 2014 at 3:28 pm

      Bibi,
      O caminho é esse, aceitar que nem todo mundo é igual. Se ficar em casa não ia te fazer feliz por que fazer isso, não é mesmo? x

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  • Paula
    June 19, 2014 at 2:14 pm

    Nivea acompanhei cada um dos posts e posso te dizer que como sempre te admiro! E isso do telefone é realmente um horror, eu também percebi o quanto de tempo perco com ele por estar vendo essas coisas. Agora decidi, que chegando em casa eu guardo o telefone, O tempo deles tem que ser deles, mesmo que seja pouco, no meu caso! Como sempre parabéns pelos textos e pela família!

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    • Nivea Sorensen
      June 24, 2014 at 3:29 pm

      Paula,
      Melhor passar pouco tempo com ele mas estar presente do que passar o dia grudada no telefone ou no computador enquanto ele brinca no seu pé, sozinho, não é? x

      Reply
  • Ana Paula
    June 22, 2014 at 9:11 pm

    Nao podemos ter tudo e não dá para fazer tudo ao mesmo tempo 100%. Você está fazendo escolhas, escolhas certas.Bjs

    Reply
  • Gabi Ramalho
    June 23, 2014 at 3:53 am

    Nívea,
    Minha filha tem só 5 meses, mas me identifiquei tanto com esse post que nem consigo explicar ( mesmo que uma parte dessa identificação tenha mais de projeção futura..rs)

    Escolhas são assim, com ganhos e perdas, né?! Fico feliz em saber que você está satisfeita com a escolha (re)feita!

    Um beijo

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    • Nivea Sorensen
      June 24, 2014 at 3:36 pm

      Gabi,
      Esse assunto (de como eu ia lidar com uma criança na minha rotina) já tinha sido tratado em terapia quando eu ainda estava grávida. Acho que um pouco de projeção futura não faz mal para ninguém mas também aos 5 meses ainda não dá para saber exatamente quais desafios ela vai te trazer, não é?
      x

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  • Martha
    July 8, 2014 at 4:06 pm

    Nívea, tinha perdido essa serie de posts.. e estou lendo agora desde o principio.. e como esta me fazendo pensar.. repensar…
    Trabalho fora, eu sei, e por isso minha realidade é diferente… mas estou na mesma exaustão que vc estava.
    Já tomei algumas decisões que só vão poder ser colocadas em praticas depois que meu segundo nascer e eu não voltar mais..
    mas por enquanto estou sofrendo por querer ficar mais com Laís, querer um tempo de qualidade e não conseguir.. e estar estressada e desligada demais para dar a atenção que ela precisa…
    Que bom que as coisas encontram um caminho e que a gente consegue elencar nossas prioridades… e que ela são tão mais importantes que o app do facebook chamando!!!!
    Bj grande em vcs

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