Não é a mamãe

Porque a vida de mãe de um menino de dois anos com muito fogo na fralda também tem seus dias de glória, ainda que eles sejam escassos.

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O dia começou com uma ida rápida ao correio que fica à 5 minutos de casa andando. Só que tem que levar E., claro, o que aumenta o tempo de percurso em aproximadamente 345%. Se levar no carrinho ele berra o caminho todo, tentando se soltar do cinto de segurança. Se levar caminhando ele berra metade do caminho porque quer colo e na outra metade do tempo ele não querer dar a mão, tenta se soltar e sair correndo em direção à rua. Pois é, se correr o bicho chora, se ficar o bicho chora também.

Fomos andando porque pelo menos ele se exercita (e eu não preciso levar no parque depois). No meio do caminho parei para cumprimentar um vizinho e nesse meio tempo ele resolveu pegar alguma coisa no chão e me mostrar, “olha, mamãe”. Podia ser uma florizinha, não podia? Mas eu sou mãe de moleque, já deveria ter previsto. Era um cocô de cachorro enorme.

O parágrafo quarto, do artigo 71 da Lei de Murphy determina que, quando seu filho resolve pegar um cocô de cachorro gigante, você não tenha um pacote de lencinho umedecido na bolsa. E eu não tinha. Pensei em voltar para casa, mas como ia segurar a mão dele ou evitar que ele esfregasse a mão suja em mim? Procurei na bolsa e tinha um míserio lencinho de papel sobrando no pacotinho desde o meu último resfriado, o que serviu para tirar o excesso mas não foi suficiente para limpar a mão do menino que foi fedendo (muito) até o correio. Eu claro, só percebi que ele fedia (muito) quando chegamos lá e o cheiro tomou conta do ambiente.

Depois eu percebi que foi péssima a ideia levá-lo livre, leve, solto e fedendo, porque eu não conseguia escrever o endereço no envelope e manté-lo perto de mim. No final fui obrigada a prendê-lo pelo cintura entre as minhas pernas enquanto ele gritava “noooooo”, “heeeelp”, “I’m stuck”, “get off me”.

Na volta para casa eu já contemplava a idéia dele ser filho único mesmo, tamanho o nervoso,  quando paramos numa lojinha para eu comprar uma revista. Então, E. aponta para uma das capas e segue o seguinte diálogo:

E.: – Olha a mamãe!

Resolvi perguntar de novo, para me certificar.

Eu: Você está vendo a mamãe ali?

E.: “Sim, mamãe ali”.

Eu: “Filho, presta atenção, qual delas é a mamãe? Vai lá e pega”.

E.:”This one”.

E lá vem meu filho com a mão fedendo cocô de cachorro trazendo a seguinte revista, com a “mamãe na capa”:

Sem saber se levava no oculista ou se matava de beijos eu resolvi filmar para ficar na eternidade o meu dia de princesa:

N.