Por você (bolo de laranja)

Tem sacrifício nenhum que eu não faça nessa vida pelo meu filho e por um pedaço de bolo, não necessariamente nessa ordem. Tomo banho gelado, canto com a Ivete Sangalo, tiro foto com o iPhone no espelho, danço funk, entro em discussões sobre política com leitores da Veja.

Esses dias vi uma receita linda de bolo de laranja na internet e fiquei ba-ban-do. Ai fiz o que tinha que ser feito, guardei o link no Pinterest e fui comer um pedaço de brócoli para esquecer do assunto (o que os olhos não vêem o coração não sente e a balança não acusa). Fiz uma oração à Nossa Senhora da Volta ao Tamanho 10 e dormi com a consciência limpa e estômago vazio de gordices.

Hoje, no entanto, precisei comprar leite na lojinha de conveniência aqui do bairro. Sem dinheiro nenhum no bolso tive que usar o cartão de débito e precisava gastar mais do que €5 para que eles aceitassem o pagamento com cartão. Comprar o quê que não engordasse naquele mundo de chocolates, bolachas e salgadinhos? Suco de laranja! Lembrei do bolo e resolvi comprar uma caixinha de suco para fazer o bolo para o E.

Chegando em casa, E. foi direito para a cama e eu comecei a Operação Vou Comer um Pedaço de Bolo de Laranja Sem Engordar. Fiz um smoothie com frutas vermelhas e espinafre (mais um tiquinho de suco, tiquinho de iogurte natural sem gordura, semente de chia e uma colherzinha de óleo de coco) e almocei. Liguei o X-Box e fiz uma hora de Zumba, o que me fez perder segundo o vídeo-game, quase 1000 calorias. Perdi também litros de suor, alguma dignidade e a vontade de ficar de pé pelo resto do dia.

Aí corri para a cozinha, fiz brigadeiro (recheio de bolo para uma encomenda de amanhã), adiantei o jantar, fiz o bolo de laranja, arrumei a cozinha, e enquanto dava uma olhadinha na globo.com queimei os aspargos (bem feito, castigo divino por ter lido a notícia “bailarina comemora 10 anos de amor e faz fotos de madrugada”;melhor ficar esperta, da próxima Deus me cega por ler tamanha bobagem).

Quando E. acordou, eu estava cansada, suada (e sem banho) mas o bolo de laranja estava lindo e cheiroso. Mostrei para o E. e o bichinho faltou chorar de emoção (filho meu, ninguém nega): “óia bolo, oh, look, bolo, hummmm, bolo, óhhh mamãe, thank you meu amor, bolo, bolo, hummm…” . Servi com suco de laranja e ele comeu não uma, mas duas fatias grandes.

Aproveitei o momento distração dele, sentei na minha mesa de jantar, com café fresquinho, forte e sem açúcar e comi uma fatia também. Estava tão bom, tão macio, tão fofo e gostoso que valeu cada caloria ingerida. Estava tão bom, tão macio, tão fofo e gostoso que eu quase cai em tentação e comi o segundo pedaço. Pensei até em trocar a fatia de bolo pelo meu jantar (e café da manhã e almoço do dia seguinte). Pensei que podia comer o bolo inteiro e depois fazer a dieta da luz solar, que aqui na Irlanda é mega eficiente uma vez que o sol quase não aparece. Pensei que podia viver só de bolo de laranja por alguns meses  e depois fazer uma cirurgia de redução de estômago, por que não? Se faltar dinheiro para a cirurgia posso muito bem vender um rim. Não sei se estou lendo muito a globo.com mas por lá não encontro muitas notícias sobre compra e venda de rins. O mercado de rins deve estar em baixa. Mas sempre posso vender o filho, né?

Ai voltei a realidade, lembrei que gosto mais do filho do que de bolo (que foi devidamente escondido) e fui fazer um chá-verde como punição pelos maus pensamentos.

N.

Em tempo, a receita de bolo está na página do blog no Facebook (não é a original que eu tinha visto, fiz essa da minha cabeça mesmo).