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O chico do Erik

Eu sempre sofri sintomas severos de TPM.

O mais grave era o físico, tinha cólicas terríveis, mas tão terríveis que minhas primeiras horas de contrações quando E. nasceu foram encaradas até que numa boa (foram 12 horas do início até quando tomei a anestesia, ou seja, não foi pouco). Precisava de remédios fortes, tinha dificuldades de ficar de pé e muitas vezes fui parar no pronto-socorro para tomar remédios intravenosos.

Ao mesmo tempo tinha os sintomas emocionais, os que aconteciam alguns dias antes das cólicas (por sorte um substituia o outro). Era quase como cair em depressão profunda novamente, ficava muito mal, chorava muito e pelas razões mais abestalhadas que você puder imaginar (um dia chorei a noite inteira porque cheguei em casa e meu pijama preferido não estava embaixo do travesseiro, tinha sido lavado), tomava decisões que me arrependia depois (terminei namoros, pedi demissão, desisti de projetos), ficava completamente fora de mim, carente e infeliz. Nunca precisei anotar o dia da menstruação na agenda. Era só começar a me sentir assim que sabia que em um ou dois dias ela apareceria.

Aguentei isso por alguns anos até procurar um ginecologista que sugeriu a pilula-anticoncepcional para controlar meus hormônios e evitar a TPM. Funcionou e minha vida mudou.

Só que eu nunca me esqueci como me sentia durante esses dias. Talvez por essa razão tenho percebido que o comportamento do meu E. tem sido bem parecido. O que se chama de terrible twos (os terríveis dois anos) nada mais é do que uma TPM que dura aí aproximadamente um ano, aqui em casa mais conhecida, a partir de agora, como o chico do E.

Ele não é mais bebê mas também não é criança. O devenvolvimento dele está à toda, físico, mental, emocional, cognitivo, motor . Ele tem gostos, vontades, preferências mas ainda não sabe expressá-las muito bem. Acredito que nem entenda o que está sentindo, o que quer, ou o porquê das coisas não serem do jeito dele. Ele no fundo não sabe por que não pode passar o dia todo na rua, por que eu não posso deixá-lo correr livre ao lado do lago ou por que ele não pode comer pão a hora que bem entender.  Resultado? Frustração, o que ele também não sabe demonstrar, a não ser se jogando no chão, fazendo escândalo e chorando.

Agora imagina você sentir esse turbilhão de coisas novas, não saber como agir,  e ainda por cima ter alguém gritando com você, ficando irritado, como se tudo o que você fizesse fosse errado e inapropriado? E se essa pessoa que não te entende fosse justamente aquela em quem você mais confia e mais ama? Alguém se sentiria melhor?

Eu acredito que não. Me lembro de que toda minha raiva e angustia sentidas naquela confusão de hormônios (que eu não conseguia controlar, simples assim) podia ser aplacada com um abraço ou uma palavra de compreensão. A pior coisa do mundo era quando alguém dizia que era “frescura”.

Por isso eu tenho feito um esforço enorme para ajudar meu filho a passar dessa fase com o máximo de carinho, respeito e o mínimo de gritos possíveis (sempre escapa um, especialmente quando eu não estou lá muito bem, muito calma). No geral, tenho conseguido. Ou melhor, tenho melhorado nesse sentido. Fico nervosa? Fico, quase sempre. A diferença é que desconto esse nervosismo cada vez menos nele. As vezes, leva tanto tempo para acamá-lo, para acabar com a choradeira, que no final eu acabo chorando sozinha no final do dia, de cansaço, mas ainda assim longe da culpa por ter gritado com ele.

Ele virou um anjo e não dá mais escândalo? Longe disso, quem mudou não foi ele, fui eu que aprendi a fazer com que os ataques de fúria sejam muito menos frequentes, mais curtos e menos traumáticos.

Talvez não tanto para mim, mas com certeza muito mais para ele, que anda muito mais calmo e feliz.

N.

PS. Qualquer hora eu escrevo sobre como eu tenho conseguido acalmá-lo “naqueles dias”, o equivalente ao combo “buscopan-bolsa de água quente-chá de camomila-descanso”.

About Author

42 anos; brasileira que mora na Irlanda; mãe de um filhote de irlandês do cabelo vermelho e muito fogo na bunda, de uma pimentinha de olhos grandes e curiosos e de uma caçulinha que é só sorrisos.

10 Comments

  • Ursula
    May 17, 2013 at 5:08 pm

    Analogia INCRIVEL! Sinto nao poder ajudar, pq meus filhos nunca tiveram os tais terriveis dois anos….bjs e força na peruca

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  • ka smith
    May 17, 2013 at 5:51 pm

    Breno não teve essa fase, já a Chloe teve e continua tendo, mais leve, mas continua, o que me faz pensar que muito tem a ver com a personalidade…torça para que eu esteja enganada porque se for o caso é drama para o resto da vida! ha ha ha

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  • Dani Rabelo
    May 17, 2013 at 6:47 pm

    Querida, adorei o texto e a ideia sugerida! Sim, eles são beeeem parecidos, tanto a TPM quanto os TT.

    Eu também morria de cólicas e ia parar em pronto-socorro mês sim, outro também. Quantas vezes faltei aula ou tive que ir embora pq estava com tanta cólica que não conseguia ficar em pé, com olhos abertos, eu só me encurvava e urrava. A TPM igualzinha à tua… exatamente igual… e o anticoncepcional tem que ser o certinho, senão algo sai da engrenagem. Exato.

    Concordo contigo que um abraço e uma palavra de apoio são mais importantes do que brigar, gritar e pôr de castigo. Ocorre que nem sempre podemos passar a mão na cabeça e ficar tranquilas, até pq eles fazem bastante coisa errada tbm…. O que eu faço é abraçar e beijar a Laura quando eu vejo que ela está frustrada ou não entende alguma coisa…. mas quando ela faz algo errado, joga alguma coisa no chão, bate em mim, chuta ou qlq coisa assim, vai direto pro castigo, tem tapa no bumbum ou bronca alta. Não quero saber e não perdôo. Uma coisa é chorar de raiva, SE bater (eu não brigo se ela se bate….) ou se jogar no chão, tudo bem. Dou abraço forte, faço carinho e tudo. Mas se ultrapassar o meu limite do que é certo (meu) então vai ter volta.

    Beijos grandes e muuuuuuuuuuita paciência para nós.

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    • Nivea Sorensen
      May 17, 2013 at 6:51 pm

      Dani, concordo plenamente. Eu não passo a mão na cabeça e também coloco de castigo se preciso. Aqui eu falei especificamente daquelas situações em que ele não quer trocar a fralda, quer mais uma bolacha e coisas assim.
      x

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  • Didi
    May 17, 2013 at 8:18 pm

    Nívea, e eu que tive um ataque de riso durante o ataque de fúria dele? Ele queria ir por pinico, mas não queria sentar lá. E também não queria a fralda, mas quando ia pro penico pedia por ela. E quando foi vestir, jogou longe e chamou o pai. E claro que tudo isso chorando e esperneando muito. E eu achei engraçado que ele queria-não-queria e comecei a gargalhar. O menino ficou ainda pior. Mas haja paciência. Haja entender tudo isso. E como lidar para ele aprender a lidar? Como fazer ele entender que nem tudo é como-quando-onde ele quer? Difícil. Tem que contar até um milhão!!!
    beijo e muita sorte e paciência para as mães de crianças #aos2

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    • Nivea Sorensen
      May 20, 2013 at 9:35 pm

      Obrigada e paciência para você também, Didi x

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  • APaula
    May 17, 2013 at 11:08 pm

    Terrível mesmo é quando o “chico” deles coincide com o nosso. 🙂 Quem é que “guenta”? 🙂
    Não é uma fase fácil pra criança nem para nós os pais. Mas é como você mencionou, compreensão e um tanto de auto-controle (cadê você?) já resolvem muita coisa, né?
    Já leu esse texto aqui ó? http://bebe.abril.com.br/materia/a-terrivel-crise-dos-2-anos.
    Eu tento seguir umas dicazinhas que tirei daí e até que tem funcionado bem por aqui. 😀
    Senhor, dai-nos paciência, rios de paciência… Amém!
    Beijos!

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