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Pretensões e Desabafos

A luz de deus te guia ou te cega?*

Um dia desses essa semana eu assistia a TV Globo de manhã. Ou melhor, ouvia o que estava sendo exibido (nem me lembro o que) enquanto fazia outras coisas na cozinha.

Naquele dia uma senhora era entrevistada direto do enterro do neto que havia sido assassinado. Quantos anos ele tinha, ou o que aconteceu, como, onde, porquê, quando, eu não sei. Sei que me chamou atenção o fato dela clamar pela prisão do assassino, afirmando que isso impediria que outras famílias passassem pela mesma desgraça, e que isso era o mais importante.

Na hora, eu pensei que aquele discurso não era verdade. Pelo menos não completamente. Talvez por estar na TV (e quem a culparia de querer ser alguém “melhor” em rede nacional?), ou por acreditar em Deus e numa justiça divina, ela não parecia ter raiva. Fiquei me perguntando se “evitar que o mesmo aconteça com outras pessoas” é mesmo a maior motivação de quem deseja punição a quem fez mal a alguém que você ama.

Me veio à cabeça uma frase do Oscar Wilde que eu sempre gostei: “É difícil acreditar que uma pessoa esteja dizendo a verdade quando se sabe que você mentiria se estivesse no lugar dela”. E percebi que julgava a tal da mulher baseada em como EU acho que me sentiria.

Eu não faço questão de aparentar ser melhor do eu sou, e não acredito que exista punição em outra vida (e aí é sua vez de me julgar). Eu sou humana, e tenho defeitos dos quais não me orgulho. E tentando me colocar no lugar de alguém que tenha perdido um ente querido numa situação de violência extrema e completamente injustificada, eu tenho quase certeza que gostaria de que o culpado sofresse, apesar de ser contra pena-de-morte, ou do olho-por-olho-dente-por-dente.

Ontem, ao ler as notícias sobre o acontecido na escola pública do Rio de Janeiro eu tive a confirmação disso. Eu que felizmente não conheço nenhuma das vítimas, mesmo assim, senti uma certa raiva pelo fato do assassino não ter sobrevivido. Não para ser linchado, ou passar o resto da vida na cadeia. Mas para ver de perto o sofrimento sem tamanho que causou a essas tantas famílias e pudesse entender que para certas coisas não existe perdão, nem em morte nem em vida. E porque não existe sofrimento maior do que conviver com a dor que você causou.

N.

PS. A frase do título encerra o curta-documentário dirigido pelo cineasta mexicano Alejandro González Iñárritu que faz parte do filme 11 de Setembro.

About Author

42 anos; brasileira que mora na Irlanda; mãe de um filhote de irlandês do cabelo vermelho e muito fogo na bunda, de uma pimentinha de olhos grandes e curiosos e de uma caçulinha que é só sorrisos.

11 Comments

  • IngridSouza
    April 8, 2011 at 12:58 pm

    Um tipo como esse que mata a sangue frio não tem sentimento não Nivea, ele desconhece oque é dor e principalmente, ignora a dor alheia, merecia ficar vivo pra apodrecer na cadeia, melhor ainda se ficasse vivo, na cadeira e tomando uma boa surra uma vez por semana, pra lembrar todos os dias que sua liberdade foi tirada e que ele deve pagar pelo oque fez.
    Não sei oque nos reserva depois da morte, mas nessas horas me consola pensar que ele pode estar sofrendo e sua recepção foi bem looooonge do paraiso que ele acreditava existir.

    Beijocas

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  • Andre Descrovi
    April 8, 2011 at 1:06 pm

    É a velha história de culpar algo ao invés do indivíduo…quando não é videogame, cinema, ou entretenimento em geral, é religião.
    Não creio que a religião em si transforme os homens em monstros como esse, assim como não creio que jogar GTA e assistir filmes do Tarantino vão me transformar em um assassino. (não que você tenha dito isso, Nivs)

    Esse fulano era obviamente dependente químico e deveria estar sob cuidados médicos, não solto por aí. Cadê a família nessas horas? Falar que ele era “estranho e isolado” é fácil…família tem responsabilidade, na minha humilde opinião.

    E essa história de punição ou perdão é muito bonitinha, o que existe no Universo é Equilíbrio…Justiça é um conceito humano. Tirar a vida de mais de 10 crianças que tinham toda uma vida pela frente com potencial para serem agentes de mudanças sociais é uma coisa que causa um grande desequilibrio na balança…ele que se prepare para equilibrá-la de volta…

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  • Fernanda Lima
    April 8, 2011 at 2:45 pm

    Nivea,
    em tempo: sobre teu post do bolão do nascimento, registro meu palpite – dia 12 de abril, às 14h20 (horário de Dublin).

    e celebrando a vida, alimentamos um sentimento maior do que todo o medo e todo o mal: o amor.

    um beijo grande.

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  • Aninha
    April 8, 2011 at 2:57 pm

    Com certeza ele nem se abalaria, se estivesse vivo, vendo o sofrimento das famílias. Psicopatas não têm sentimentos.
    E, se tratando de um, nem família, nem religião, nem nada faria com que ele mudasse. Isso nasce e morre com você.

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  • ka smith
    April 8, 2011 at 3:45 pm

    Ele era doente, não precisa ser especialista para traçar o psicológico desse ser (que tenho minhas dúvidas se era humano), mas , nem por isso ele deixa de ser um monstro, que ele se suicidasse, ok, mas daí a acabar com a vida do próximo, PRINCIPALMENTE quando esse “próximo” nem sabe da sua existência? nunca te fez mal? é demais, é falta de Deus, não excesso.
    A religião não deixa uma pessoa sã fanática, ela pode abalar uma pessoa que já não anda bem das “botas”.

    Aliás, nada em excesso é bom, nem crer nem des-crer (?)

    Existe uma força superior, fato, ainda não descobri o que, ou quem, mas que infelizmente não o impediu de cometer a loucura que cometeu.

    Direitos humanos, para quem é humano.

    Para ele desejo o inferno quentinho, seria maldade demais coloca-lo ao lado de suas vítimas.

    beijo pancinha!

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  • Veneranda
    April 8, 2011 at 9:36 pm

    Nivea,

    Concordo com os comentários que dizem que um cara daqueles não ia sentir o mínimo de remorso se estivesse vivo. O sofrimento que nós desejamos, que ele sentisse, não ia existir.
    Também, do fundo do meu coração, não desejei que ele tivesse sobrevivido para apodrecer na prisão. Principalmente por que no Brasil o cara cumpre no máximo 10 anos de prisão (o tal do 1/3 da pena máxima que é de 30 anos) tão logo seja constatado o “bom comportamento” do cidadão e tipos como esse, nos presídios, aprendem rapidinho a contracenar o papel do bom moço. Ou seja ficar preso seria muito pouco perto da dor de quem vai chorar a ausência, o abraço, o sorriso de um filho, pela vida inteira.
    Tenho dois filhos. Um deles com 14 anos e não tive como não me projetar naquela situação. Imaginar que aquela mãe que chorava ao telefone falando para o marido “mataram a ‘nossa’ Karine” poderia ser eu, doeu um bocado.
    Acredito na vida após a morte mas ainda não atingi um grau de evolução espiritual que me permita perdoar e pedir luz para um cara desses. A minha porção mais humana e imperfeita me faz ficar feliz pelo fato dele ter morrido e desejar que, na espiritualidade ou onde quer que seja o inferno em que ele esteja, que ele sofra bastante a consequência dos seus atos.

    Desculpe o desabafo. Isso é tristeza e indignação.

    Bjo pra vcs e pro Babóg…

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  • Cintia
    April 9, 2011 at 2:08 pm

    Voce assiste Globo como? 🙂

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  • Ernani
    April 9, 2011 at 4:15 pm

    E é triste ainda ter que ver uma amiga que está prestes a trazer mais uma criança ao mundo ter que se preocupar com esse tipo de barbaridade….

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  • Flavia R.
    April 12, 2011 at 3:11 pm

    Moro no Rio de Janeiro, num bairro ao lado de onde ocorreu o chamado “massacre de Realengo”. É inacreditável o que aconteceu.
    Infelizmente é o tipo de acontecimento que não teria como evitar. Não tem controle de armas que evitaria o acontecido. Ele não comprou as armas numa loja, comprou de forma ilegal. O controle que o governo deve fazer eh nas fronteiras e evitar o contrabando.
    E, se ele não tivesse morrido… as leis brasileiras não tem prisão perpetua. Daqui a alguns anos ele estaria livre sem duvida.

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  • Flavia R.
    April 12, 2011 at 3:14 pm

    De qualquer maneira, não fique vendo essas coisas. Não eh para ninguem e principalmente para você que está num momento tão especial.

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  • Aline
    April 28, 2011 at 12:21 pm

    É extremamente possível não sentirmos ódio por alguém que cometeu um crime bárbaro como esse pelo qual essa senhora passou. Alias, perdão e ódio são coisas opostas. Porque o perdão liberta, já o ódio aprisiona. O fato dessa senhora dizer que deseja justiça, com calma, não quer dizer que ela nao estivesse sofrendo em seu limite humano, mas que sim, existe algo muito maior chamado Deus e toda uma lei espiritual que rege o universo criado por Ele. Não estou aqui para empurrar minha opinião goela abaixo, mas isso existe sim, aliás muitas coisas da palavra de Deus estão se cumprindo. Tanto há misericórdia divina, que Deus mandou um diluvio de 40 dias para limpar o mundo das sujeiras que o ser humano é capaz de fazer e que não agradam a Deus, principalmente o arrependimento e o exercício do perdão. Agindo assim, ela confiou plenamente nEle e pode ter certeza que se fosse o contrário ela jamais poderia se libertar dessa dor e seguir em frente.

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