Cadê os neurônios que estavam aqui?

Você já deve ter se espantado com a capacidade que as mães têm de não ver defeitos na própria cria. A criança nasce com aquela cara amassada de joelho de gorda mas a mãe sempre acha que é o bebê mais lindo que já nasceu na face da terra.

Quantas vezes eu me vi com cara de tacho na frente de uma mãe e sua criança feia diante do comentário “ele não é lindo”? Que dizer? No fundo o que eu sempre quis saber era se ela dizia isso para se auto convencer ou se realmente acreditava na afirmação.

Sim, eu sou daquelas que acha que nem todo recém-nascido, bebê ou criança é bonita. Pronto, escrevi. Mas eu também não sou a bruxa que sai por aí dizendo que eles são feios, então espero o mesmo de você, obrigada. Elogio vindo de mim, no entanto, é sempre honesto.

Voltando ao assunto, agora que estou grávida esse grande mistério da humanidade parece claro pra mim.

Durante a gravidez, boa parte dos neurônios que uma mãe possue descem cordão umbilical abaixo. Vão terminar lá na placenta e vão se embora de vez quando o bebê nasce. Vira lixo hospitalar. É assim como se fosse um processo de seleção natural (aquele do Darwin). Se as mães tivessem qualquer capacidade de ver seus filhos da mesma maneira que o resto do mundo, muitos deles não sobreviveriam, pelos menos não em épocas mais primitivas que essa em que vivemos. E vamos combinar que nada mais justo mesmo. Depois de carregar por mais de 9 meses, que mãe quer ver que o seu filho é meio feio? Ou depois então, meio burrinho?

Eu percebo isso na prática a cada dia que passa. Quão maior fica minha barriga parece que menor fica minha cabeça. Memória já é uma coisa da qual eu tenho uma vaga lembrança do que era. No meio de fazer alguma coisa eu já esqueci o que comecei.

Saio do banho para perceber que esqueci de passar condicionador no cabelo. Procuro pelo par de meias que já estão no meu pé, ou pelo celular ao mesmo tempo em que falo nele. Estou constantemente atrasada porque sempre me falta alguma coisa antes de sair de casa.

Hoje de manhã cheguei do trabalho e percebi que havia deixado o leite no armário enquanto o café solúvel foi guardado na geladeira. Verifiquei mil vezes a receita que eu ia fazer, e claro, ainda assim, esqueci um item. Por outro lado, fui à farmácia só para comprar uma coisa que na verdade eu já tinha em casa. Fiz planos para I. na quarta-feira, ignorando completamente o fato de que ele joga futebol às quartas.

Outro dia coloquei a máquina de lavar louça para funcionar sem o detergente. E não contente já fiz o mesmo com a máquina de lavar roupas. Isso para não mencionar quando enchi o forno de roupa suja. Ou da sopa que eu fiz, sem sal, pimenta ou tempero algum.

No trabalho, já não me lembro de nomes de alunos, nem dos que frequentam o escritório com frequência. Mandar um e-mail para o chefe sem o anexo que eu pretendia ter mandado também já virou rotina e já é piada interna. Eu que sempre prestei tanta atenção em tudo, e que dificilmente cometo erros, deixo passar as coisas mais bobas. Já enviei cartas para a imigração sem a minha assinatura e dificilmente meus relatórios não voltam para serem corrigidos. Agora para evitar maiores problemas minha mesa tem post-it colado em tudo quanto é canto.

Nesse ritmo meu babóg vai ser mesmo a criança mais linda de todos os tempos. Pelo menos pra mim. Ou isso ou eu quero meus neurônios de volta.

N.