Menu
Blogagem Coletiva / Gravidez / Mães Internacionais / Vida na Irlanda

Blogagem Coletiva: O Pré-natal e a Irlanda

A minha vida aqui na Irlanda é, desnecessário dizer, muito diferente da vida que eu tinha no Brasil.

No Brasil eu jamais pensaria na hipótese de ter um filho sem ter um plano de saúde há tempo suficiente para cobrir minhas despesas com pré-natal e parto, ou sem ter dinheiro suficiente para pagar as mesmas despesas na rede privada.

Aqui na Irlanda isso nem me passou pela cabeça e engravidei sem ter plano de saúde. Claro, seria melhor se tivesse, mas está longe de ser o fim do mundo o fato de eu ter que contar com o sistema de saúde pública irlandês.

Descobri a gravidez já com 8 semanas e no dia seguinte marquei consulta e fui atendida por um GP (General Practioner, aqui também chamado médico da família, ou ainda clínico geral como ele seria chamado em bom português).  Paguei pela consulta €40, que deve ser o preço médio de uma consulta médica por aqui. Já estava preparada para pagar também por um exame de sangue para confirmar a gravidez, mas para minha supresa e estranhamento, o médico simplesmente usou um palitinho na minha urina e disse que tinha certeza absoluta da gravidez.

Foi o médico mesmo que preencheu um formulário que eu assinei e que segundo ele seria encaminhado para o HSE (Health Service Executive, o SUS daqui) para que eu não precisasse mais pagar pelas próximas consultas.  Todo mundo que é residente na Irlanda, e tem portanto um número de cadastro no serviço social tem direito a esse serviço, independente da nacionalidade ou do tipo de visto (estudante, esposa e etc.).

Foi ele também que me forneceu uma carta que eu deveria apresentar na maternidade mais próxima da área em que eu resido, e todas as informações sobre o que eu precisava ou não fazer. Me explicou também que na Irlanda o pré-natal funciona da seguinte maneira: as consultas são intercaladas, uma vez no hospital (com um médico obstetra ou com uma parteira) e outra no consultório, com o GP. A frequência das visitas vai aumentando conforme a gravidez avança e também no caso de alguma doença (como diabetes ou hipertensão, por exemplo) ou no caso de uma gravidez de risco.

Chegando em casa eu liguei na maternidade para agendar minha primeira consulta e o primeiro ultra-som. Confesso, fiquei preocupada com o tempo que teria que esperar. Depois percebi que esse é o jeito como as coisas são feitas por aqui e me acalmei.

A consulta foi marcada para minha semana 16 e aconteceu numa clínica ao lado do hospital, com duas parteiras. Nessa consulta foi levantado meu histórico médico (e do meu marido) e colhidas amostras de urina e sangue. Também me pesaram, mediram minha pressão e ouvimos pela primeira vez o coração do bebê. Pelo fato de eu ter tido depressão duas vezes fui encaminhada para uma consulta com um psiquiatra especialista em depressão pós-parto.

Desde então estive com uma enfermeira especialista em saúde mental, numa consulta bem demorada e tenho já um horário marcado com o psiquiatra. Escrevi sobre isso aqui.

O ultra-som (meu segundo, já que paguei por um numa clinica particular, quando estava com 16 semanas) foi feito na semana 22.

Nesse meio tempo continuei e continuo vendo o GP. Durante essas consultas, ele sempre coleta uma amostra de urina e testa no próprio consultório (acredito que para verificar o nível de glicose), e verifica meu peso e pressão arterial e os batimentos cardiacos do bebe.

Já a minha segunda consulta no hospital (dessa vez com o obstetra), aconteceu no inicio dessa semana (a 25) e seguiu basicamente o mesmo padrão. Dessa vez no entanto, ao invés de ouvir os batimentos cardíacos pudemos ver o bebê através do ultra-som. Achei a consulta meio rápida e impessoal, mas eu não tinha queixa ou dúvida nenhuma, então tudo bem. Como comentei com a enfermeira que estava sentindo muita sede e indo ao banheiro com muita frequência ela achou melhor pedir o exame de glicose que foi feito na hora (o resultado, normal, saiu no dia seguinte).

Ao final das consultas saio sempre de lá com a próxima já agendada, e marcada numa espécie de carteirinha que eu tenho que levar sempre comigo (e depois elas são confirmadas pelo hospital através de correspondência o que eu acho bem legal porque me ajuda a lembrar as datas).

Faz parte do pré-natal aqui também o curso de gestante (que o papai também participa) e que é de graça caso você tenha disponibilidade para fazer durante o dia. Como ele dura várias semanas achamos melhor pagar e fazê-lo fora do horário de trabalho. A minha primeira aula vai ser dia 03 de Fevereiro e volto aqui para contar.

Até esse momento (e acredito que até o final da gravidez) não passei por nenhum exame ginecológico. Como nunca tive outro filho, aqui ou no Brasil, não sei se isso é comum.

O que eu sei é que me sinto cuidada e em boas mãos.

N.

PS. esse post faz parte de um projeto de blogagem coletiva de mães de diferentes partes do mundo, para quem tiver curiosidade sobre como isso funciona em outros países, o link delas está aí em baixo:

Na Casa da Beta (Roberta, Mônaco)
http://betinhazinha.com

Minha Aquarela (Cintia, Suécia)
http://cintiaanira.blogspot.com

O Astronauta (Flávia, Espanha)
http://www.joaoastronauta.com

Mamães na Itália (Daniela, Itália)
http://mamaesnaitalia.com

Mix dos 30 (Daphne, Itália)
http://matteodaphne.blogspot.com

Mother Love Database (Carol, Inglaterra)
http://motherlovedatabase.blogspot.com

Journal de Beatrice (Ana Paula, Franca)
http://jornalbebe.blogspot.com

NY With Kids (Paula, Estados Unidos)
http://nywithkids.blogspot.com

About Author

42 anos; brasileira que mora na Irlanda; mãe de um filhote de irlandês do cabelo vermelho e muito fogo na bunda, de uma pimentinha de olhos grandes e curiosos e de uma caçulinha que é só sorrisos.

19 Comments

  • Flavia
    January 15, 2011 at 8:22 pm

    Oi Nivea,

    Na época tambem eu também ficava preocupada achando que as visitas tinham que ser mais frequentes (ou mais longas)… Principalmente quando comparava com outras mamães com plano de saúde (na Espanha ou no Brasil)…

    Acredito que o mais importante é que você se sinta em boas mãos e confie.

    Vai dar tudo certo!

    beijos

    Flavia

    Reply
  • ka smith
    January 16, 2011 at 5:01 pm

    Eu acho que existe uma diferença enorme quando já se teve filho no Brasil , porque sem dúvida a gente acaba comparando e em questão de estrutura o Brasil dá de mil a zero, pra mim, o pior foi a informalidade das consultas, a troca constante de médico e a falta de alguém que me acompanhasse do início ao fim no hospital, mas, são coisas da vida… se fosse tão ruim, eu não teria outro, não é mesmo?

    Fecha o olho e vai…. hahaha

    beijos

    Reply
  • Cintia
    January 16, 2011 at 6:46 pm

    Oi Nívea,
    Muito boa essa troca proporcionada pela “blogagem coletiva”. Estarei acompanhando sua gestação. É uma fase mágica, cheia de transformações. Aproveite tudo! Beijos

    Reply
  • NiveaSorensen
    January 16, 2011 at 7:36 pm

    Oi Flávia, obrigada pela visita e pelo comentário.

    Ká, pois é, acho que se eu tivesse como comparar com o Brasil não estaria tão tranquila assim. Felizmente não tenho, e também não tenho escolha, né?

    Beijos

    Reply
  • ka smith
    January 16, 2011 at 8:21 pm

    E ó, a minha opinião é mais voltada as questões práticas, como dividir quarto com um monte de gente ou não ter um médico especifico, de maneira nenhuma estou questionando a competência dos médicos daqui que até onde sei, fazem bem o trabalho…

    Reply
  • Carol P
    January 16, 2011 at 8:28 pm

    Nivea,
    tambem adorei conhecer seu blog e jah troquei o link.
    Morei uns meses em Dublin e foi uma orima experiencia e minha manager na epoca estava gravida, mas nao sabia dos detalhes ateh a blogagem coletiva.
    bj

    Reply
  • NiveaSorensen
    January 16, 2011 at 9:58 pm

    Ka,
    Eu acho que no fundo se comparar os dois sistemas públicos o daqui ganha disparado, porque como você mesma disse não é competência médica que está em jogo, é o conforto. Mas se comparar com o privado, claro que existem mais vantagens em ter um bebê numa maternidade particular, com quarto e tudo mais.
    Uma amiga minha teve um bebê aqui e disse que nunca mais.
    Também me preocupa a falta de privacidade e sei que vou achar a coisa mais horrível do mundo ter que ficar com outras mães e bebês. Mas de novo, adianta eu reclamar agora? Quando o próximo chegar eu prometo que vou ter um plano de saúde. 🙂

    Reply
  • nivea
    January 16, 2011 at 10:06 pm

    Carol e Cintia,
    Também estou acompanhando o blog de vocês.
    Beijos

    Reply
  • Dani
    January 17, 2011 at 9:40 am

    OI Nivea, havia deixado um coments aqui, acho q acabei nao colocando a palavra chave, 🙁

    Olha, achei mt legal conhecer o SUS dai, parecido com o funcionamento da Inglaterra.
    Sobre os exames ginecologicos, eles faziam exame de toque todo mes. Mas conheço casos q nao faziam, acho q cada um tem um procedimento diferente mesmo.

    Um beijo!

    Reply
  • ana paula - journal de Béatrice
    January 20, 2011 at 5:13 pm

    Nivea!
    Achei legal os médicos não realizarem muitas intervenções no decorrer da gravidez. Acho que aqui abusaram um pouco dos exames de toque do colo do utero, chegou a sangrar uma vez e fiquei muito preocupada. Mas, gravida de primeira viageme estando no exterior, achei que esse era o procedimento normal. Vou conversar para que na proxima gestação, se é possivel não haver esse tipo de exame. Vamos ver…
    Beijossss 🙂

    Reply
  • Bianca Lanu
    February 7, 2011 at 1:29 pm

    Olá, prazer!
    Muito bacana essa movimentação!
    Edito o blog Parto no Brasil sobre saúde materno-infantil e empoderamento feminino e postei essa blogagem coletiva por lá hj, confira:
    http://partonobrasil.blogspot.com/2011/02/nos-ares.html
    Parabéns pela iniciativa!
    Abraços, Bianca Lanu.

    Reply
  • Duda
    June 3, 2012 at 11:06 pm

    Olá Nívea!

    Meu nome é Duda e eu tive filho há 3 meses aqui em Dublin.

    Eu achei interessante o seu post, mas sabe…eu estou extremamente triste com o sistema de saúde desse país! Também sou mae de primeira viagem que nem voce.

    O que eu mais detestei nesse esquema daqui sao justamente essas consultas breves demais. Eu chegava bonitinha na minha hora marcada e esperava 1 horas as vezes até 2 horas ora ser atendida. Quando chegava a minha vez, eu era atendida em cerca de 3 minutos.

    Minhas amigas contavam as experiencias delas nessas consultas pré-natais (obviamente fora da Irlanda) e eu ficava impressionada como a consulta delas era detalhada e demorada.

    Volta-e-meia a minha rinite fica atacada e eu PRE-CI-SO usar algum remédio pra facilitar minha respiracao. Falei isso para o Clínico Geral e a pessoa fingiu que nao escutou nada. O médico falou que isso teria que ser tratado numa OUTRA consulta médica. Ou seja: ele quer receber $ para me sugerir um remédio pra me ajudar na rinite alérgica.

    Bom, vou resumir senao eu vou escrever demais: eu passei os 9 meses da gravidez sendo examinada por três minutos : tiram a pressao, checam a urina e fazem o ultrassom. Pronto. Pode ir e marcar sua próxima consulta pra daqui a x semanas.

    Bom, hoje eu estou aqui. Tive parto normal mas ainda tenho dores. NINGUÉM me disse que era para eu marcar uma consulta pra mim na segunda e na sexta semana de vida do bebe. Só disseram que ELE tinha direito a essas consultas. O GP nem quer saber como eu estou ou me sinto. Marquei uma consulta semana passada pra averiguar mais o porquê dessas dores na área da bacia. O GP me deu um encaminhamento pra fazer fisioterapia. Liguei na maternidade e a mesma disse que nao aceita pacientes após a sexta semana após o parto.

    Resumonda historia: eu estou aqui, toda dolorida e ninguém está pouco se fod&#%

    Eu também ODIEI essa história de nao ter um médico fixo. Cada consulta que fiz foi com um médico diferente. Voce nem se sente a vontade pra perguntar coisas embaracosas ou ‘perguntinhas bobas’ que qualquer grávida de primeira viagem tenha.

    Ah, outra coisa que preciso mencionar: na Irlanda eles nao fazem o tal do “episiostomy” (nao sei se a palavra é essa, mas é aquele corte na vagina que os médicos fazem pro bebe sair mais fácil). Pois é. Nao fazem. Resultado: eu tive um “rasgo” de segundo grau.

    Depois que saí na maternidade, o GP JAMAIS PERGUNTOU NADA como está a minha cicatrizacao. E o pior é que olhei a “perseguida” com um espelho e me assustei com o que vi…

    Eu tenho a impressao de que fizeram alguma coisa de errada “lá embaixo”….! Vou ver se marco uma consulta pra essa semana e OBRIGO o médico ohar e me dizer se isso é normal ou o que….

    Olha amiga, que Deus abencoe voce e seu bebe. Que o santo Deus que está no céu abencoe o seu parto, porque olha, aqui na Irlanda a gente só tem mesmo DEUS pra nos proteger.

    Eu peco fervorosamente a Deus pra NUNCA MAIS ter filho nesse país!!

    Abraco a todas

    Reply
  • Duda
    June 3, 2012 at 11:26 pm

    Sou eu novo!

    Desculpe amolar a paciencia dos leitores desse blog!

    Sabe, é tao difícil estar a milhares de kilometros longe de casa, com um filho recém-nascido nos bracos e toda a familia no Brasil (exceto marido e sogros)…

    Como disse no comentário mais acima, o meu bebe nasceu há 3 meses e eu ainda sinto dores…

    Me sinto tao só….e triste….

    Eu nao estou com depressao pós-parto, nao. Estou apenas MUITO triste com o desdém dos médicos desse país!

    Eu nao sou a primeira pessoa a dizer que os médicos desse país só estao interessados no seu dinheiro! Para eles, nós pacientes somos apenas um pedaco de carne com um problema. Ninguém trata os pacientes como seres humanos.

    No consultorio aqui perto de casa tem 2 placas. Uma está escrito:

    “A consulta dura 15 minutos. Se vce tem muitos assuntos a tratar, entao voce tem que marcar uma segunda consulta”.

    No outro cartaz está escrito assim: “se a sua consulta ultrapassar os 15 minutos, voce terá uma taxa a mais a ser paga”.

    Sabe, o Brasil pode ter todo tipo de defeito, mas pelo menos os nossos médicos sao mais HUMANOS!!

    Pois é…e aqui estou….! Tive trocentos médicos durante o pré-natal, me consultei com o Clínico Geral aqui perto de casa e estou cheia de dores pós parto….

    …e nao sou “problema” de nenhum desses médicos….

    Abraco para todas e mais uma vez eu peco desculpas pelo desabafo! É que eu nao tenho mais ninguém pra conversar a nao ser com pessoas virtuais….

    Reply
  • Andrea
    March 11, 2013 at 2:51 pm

    Ola, estou tao feliz de ter achado o seu blog. Pois eu estou gravida de 8 semanas e estava achando que o medico estava fazendo pouco caso de mim. Mas vi pelos relatos dos comentarios que eles sao assim mesmo infelizmente. Entao o que posso fazer eh pedir a Deus que proteja a mim e ao meu bebe.

    Reply
  • Bruno Souza
    September 4, 2015 at 7:29 pm

    Olá Nivea, sera que teria algum email que eu poderia estar conversando contigo? Tenho algumas duvidas.

    Reply
  • Bruna
    December 22, 2015 at 6:56 pm

    Ola Nivea! Tudo bem? Gostaria de tirar algumas duvidas sobre minha gravidez aqui na irlanda… Tenho visto de estudante e meu namorado tbm ja pesquisei oq aconteceria comigo neste caso, minha perguntar e: se eu tiver meu filho aqui, oq ira acontecer uma vez que ele tbm precisara de um visto e ou a documentacao necessaria para voltarmos ao brasil? Se pode tirar essa duvida eu agradeceria 🙂 bjs

    Reply
    • Nivea Sorensen
      December 23, 2015 at 9:25 am

      Seu filho não vai ter visto porque como estudante vocês não podem ter dependentes, ele vai ter uma certidão de nascimento. Vc vai precisar registrá-lo na Embaixada Brasileira e tirar um passaporte para ele. x

      Reply
  • Teresa Cristina
    October 1, 2016 at 10:24 pm

    Seu post muito esclarecedor. Vc poderia indicar qual a clínica em Dublin, p fazer uma ultra particular? se for possível? Email teresacristinasantossilva@hotmail.com. Obrigada

    Reply

Deixe uma resposta para Cintia Cancel Reply